ENTREVISTAECONOMISTA MARCOS FÁBIO MARTINS

Marcos Fábio concluiu o mestrado em História Econômica pela Universidade de São Paulo (USP). Entre outras atividades, atualmente, desenvolve pesquisa sobre as relações econômicas Brasil-China. Nesta entrevista ao Portal Unimontes, você encontrará orientações pontuais para atravessar este período.

Esperamos que, após essa crise, tenhamos uma transformação. E, no futuro, a sociedade seja mais produtiva

Os cenários não são os melhores para a economia brasileira pós-pandemia. O que dirá da mundial. Com o PIB em queda e o dólar em alta, custando R$ 5,23, especialistas mais otimistas comparam a Pandemia causada pela Covid-19 com a Grande Depressão de 1929. No caso do Brasil, o FMI prevê que o PIB deste ano vai encolher 5,3%. Fato é que o isolamento social, medida preventiva contra a transmissão do Novo Coronavirus alterou a rotina de todos, interrompendo a atividade econômica e reduzindo a renda das pessoas. Neste cenário, a melhor orientação é gastar menos. Há oportunidades de investimentos – por causa da queda de ações e dos valores de terrenos – mas bem limitadas àqueles que pouparam dinheiro. Professor do Departamento de Ciências Econômicas da Universidade Estadual de Montes Claros (Unimontes), Marcos Fábio Martins de Oliveira sugere algumas saídas para enfrentar o período de quarentena.  

PORTAL UNIMONTES Qual a melhor estratégia para cuidar bem do dinheiro durante esta quarentena?

Professor  Marcos Fábio – Existem vários tipos de pessoas. Para cada uma delas, a recomendação é diferente. Funcionário público, que recebe o salário – não vou dizer em dia, uma boa parte do funcionalismo público recebe em dia, tem renda garantida. Neste caso, a estratégia fica relativamente fácil porque não há gastos a serem feitos. A gente tem pouco acesso à rua.  Precisamos comprar menos roupas, menos tudo. Embora alguns itens tenham subido de preço, a necessidade de consumo diminuiu. As oportunidades para quem têm  dinheiro guardado tem uma renda elevada, são boas porque os preços das ações caíram; os preços dos terrenos caíram. Mais do que cuidar bem do dinheiro, é preciso aprender a ser solidário cuidando da sociedade. Nossa posição é relativamente  confortável. Nossa renda ainda é segura, tendo em vista que uma boa parcela dos nossos gastos diminuiu. Recomendo: seja solidário. E o que é ser solidário? É cuidar dos outros. Podemos comprar, principalmente, do comércio local, dos vizinhos, dos pequenos comerciantes que hoje passam dificuldades. Cuidar bem do dinheiro não quer dizer poupar e ter lucros. É ter lucro social. Cabeleireiro, barbeiro, dentista… muitos prestadores de serviços da vizinhança estão com dificuldades. Diferente da mercadoria que recebemos em casa, o serviço é prestado a partir do contato pessoal. Ou seja: você segue o isolamento social, mas ajuda os mais vulneráveis, que enfrentam uma grande dificuldade nesse momento.

As pessoas precisam guardar dinheiro para gastar nesse momento de crise?

Guarde dinheiro não é a melhor hora. Agora é hora de usar as reservas. É importante as pessoas  terem poupado, guardado de 20 a 30% dos ganhos, sejam para fazer investimento ou outra coisa. Mas uma parte da reserva é para ser usada justamente nesses momentos de crise. A taxa de poupança  no Brasil é muito baixa. A população teria que ter uma poupança para a velhice, para a doença. Nós estamos em um momento critico. Embora a pessoa não esteja acometida da doença, a ameaça da Covid-19 faz com que a economia e as atividades humanas sejam recolhidas. A poupança, na verdade, teria que ter sido feita antes, quando estávamos em um momento de bonança, num momento que tínhamos condição de fazer a poupança. O problema é que viemos de um momento de recuperação de recessão dos últimos anos. A partir desta crise, as pessoas vão aprender a duras penas que precisam ter o hábito de poupança. Tempos difíceis acontecem. Isso é até bíblico: No Egito, tivemos sete anos de bonança e sete anos de dificuldades. Uma coisa que devemos ter certeza: as crises econômicas acontecem periodicamente. Temos uma crise que não econômica, uma crise de saúde, mas ela vai refletir e – já está refletindo – na economia, de maneira muito forte. O desenvolvimento de hábitos de poupança é fundamental para que, nesses momentos de crise a pessoa sofra menos. Nesse caso, a ação governamental é fundamental para a população carente.

Este é um momento de ser solidário

“O trabalhador assalariado corre o risco de perder emprego porque uma boa parte das empresas vai falir e ela não terá renda. Então, é preciso consumir aquilo que é básico, necessário, como comida, saúde, necessários à vida imediata”, recomenda o economista. Ele também orienta que no período de isolamento social, as pessoas devem ser solidárias e procurar dos pequenos comerciantes, duramente afetados pela crise da pandemia da Covid-19.

“Comprar a racionalmente é priorizar aquilo que, de fato, tem valor para você”

Mas, professor Marcos Fábio, aprender a economizar não pode ser uma saída para enfrentar esse momento de crise?

Talvez seja melhor propor dicas para gastar. Dicas para economizar a gente tem que seguir a vida inteira. Nós temos que procurar economizar 10%, 20% ou 30% daquilo que a gente ganha para poder investir em coisa de longo prazo, comprar uma casa, comprar um carro ou para realizar uma viagem. As dicas para economizar são aquelas em que você tem um consumo consciente, somente dentro do seu orçamento, fazer listas de compra, não comprar supérfluos.  Comprar a racionalmente é priorizar aquilo que, de fato, tem valor para você. É investir na sua capacidade produtiva. Isso para o pequeno empresário é crescer a loja ou ampliar a sua oficina. Para os trabalhadores, é aprender novos idiomas, aprender novas ferramentas. Ou seja: é investir no seu crescimento profissional para se tornar alguém mais valorizado. Então, as pessoas devem economizar sim, mas com um proposito de melhorar de vida, de ter uma reserva, de ter um futuro melhor. Este é um momento de ser solidário. Estamos passando por um momento de dificuldade, que não sabemos se poderá dois ou três meses.  A gente não sabe quanto tempo vai demorar esta quarentena. Aqueles que ganham pouco têm que priorizar o consumo imediato e ter uma reserva. Se a pessoa for prestadora de serviço, ela corre o risco de não ter o serviço para fazer. Se a pessoa for assalariada e trabalhar numa loja ou em outra coisa, corre o risco de perder emprego porque uma boa parte das empresas vai falir e ela não terá renda. Então, é preciso consumir aquilo que é básico, aquilo que é necessário, como comida, saúde. São elementos necessários à vida imediata. Eu vou dar uma dica ao contrário do que eu sempre prego: não é a hora de quem tem uma reserva econômica, estável, economizar demais. Temos que ser solidários, fazendo um consumo consciente para ajudar o próximo e manter a cadeia produtiva. Repito: seja solidário.

“Quem ganha pouco têm que priorizar o consumo imediato e ter uma reserva

Este é o momento de realizar algum investimento com o objetivo de fazer algum dinheiro render?

Toda crise gera oportunidades, mas só vai aproveitar essas oportunidades quem tiver feito alguma reserva antes. A Infomoney publicou uma matéria dizendo que está hora de comprar ações. Quem tem liquidez, obviamente, vai aproveitar essa oportunidade. Existem ações que caíram 10, 20, 30 e, em alguns casos, até 50%. Esta é uma oportunidade de investimentos. Terrenos também vão cair de preço. Quem tem condições de fazer investimentos produtivos agora criará oportunidades para os fornecedores e trabalhadores. Além de ter a oportunidade de um bom negócio, o investidor terá papel fundamental na retomada das atividades econômicas. Em todas as depressões ou guerras, sempre surge uma luz no fim túnel. Durante uma crise, tecnologias que estavam disponíveis – e que as pessoas não aproveitam todo o seu potencial, poderão ser usadas e fazer o ciclo econômico prosperar. O que esperamos e que, após essa crise, tenhamos uma transformação e que, no futuro, a sociedade seja mais produtiva. E que essa produtividade se reflita em bem-estar para a população. 

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