Estudo oferece um portal permanente para publicações, com análise de situações de conflito nas três Américas e no Caribe

América do Sul: crianças da Venezuela na fronteira
do país com o Equador (Fotos: Divulgação)

Considerado como um dos novos epicentros na pandemia mundial do Novo Coronavírus (Covid-19) pelo número absoluto de casos e de óbitos, o Brasil passou a ser campo de estudo de um dos efeitos mais imediatos para a contenção do avanço da doença: o controle de fronteiras e o enrijecimento das políticas migratórias. O assunto é tema da pesquisa internacional “Covid-19 y (In)Movilidad En Las Américas”, com amplitude nos países da América do Norte, Central, do Sul e Caribe, coordenada pela pesquisadora Soledad Álvarez Velasco, da University of Houston (Texas/Estados Unidos), da qual a Unimontes, através do professor e pesquisador Gustavo Dias, é uma das instituições brasileiras participantes.

“Somos cerca de 30 pesquisadores de diversas universidades das Américas do Norte, Central e do Sul, além do Caribe, reunidos na construção de um portal que divulgará os estudos. O objetivo é mapear as respostas dos estados no continente; situações de alerta enfrentadas pela população migrante – especialmente deslocados internos, deportados, detidos, solicitantes de asilo, refugiados, migrantes irregulares, sejam adultos, crianças ou adolescentes; e, as respostas sociais em cada um dos espaços nacionais”, explica o professor Gustavo Dias, do Departamento de Política e Ciências Sociais da Unimontes.

Migrantes na zona fronteiriça entre México e os EUA

O grupo brasileiro é formado, ainda, pelas pesquisadoras Elisa Sardão Colares (Universidade de Brasília/UnB) e Iréri Ceja Cárdenas (Museu Nacional/Universidade Federal do Rio de Janeiro), além dos professores e pesquisadores Handerson Joseph (Universidade Federal do Amapá e Université d’État D’Haïti), Gislene Santos (Universidade Federal do Rio de Janeiro) e Maria del Carmen Villarreal Villamar (Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro).

DETALHES

Também docente permanente do Programa de Pós-Graduação em Sociedade, Ambiente e Território (PPGSAT – UFMG/Unimontes) e integrante do Grupo de Pesquisa em Mobilidade Migratória, Gustavo Dias é pesquisador no campo dos estudos migratórios e regimes de fronteira. Na investigação científica, tem contribuindo com publicações em periódicos científicos indexados em bases de dados internacionais, além da organização e participação de eventos acadêmicos nacionais e internacionais.

O professor da Unimontes observa que os Estados Unidos e o Brasil, neste momento, são os dois países com o maior número de casos no mundo, “o que, de forma irresponsável, coloca o continente americano no epicentro mundial da pandemia. Isso reflete, diretamente, no enrijecimento das políticas migratórias, não apenas nas fronteiras territoriais, mas, também, nas fronteiras marítimas e áreas. Em outras palavras, na mobilidade que conecta países, portos e aeroportos internacionais”. Adiciona, ainda, que o fechamento de fronteiras foi uma ação essencial para conter a circulação transnacional e, com isso, o espalhamento do vírus. Contudo, trata-se de um fechamento tardio e excludente. “Pouco cuidado se tem dado aos grupos vulneráveis que vivem em trânsito por regiões fronteiriças”, observa.

Manifestações contra políticas de fronteira no atual cenário pandemia de Covid-19

Gustavo adiciona, ainda, que o estudo mesmo em seu início, aponta para alguns padrões vividos nas diversas zonas fronteiriças do continente. “Com o fechamento temporário das fronteiras, centros de detenção migratória, que já apresentavam situações precárias, passaram a apresentar condições sanitárias ainda mais preocupantes; outro ponto que o projeto aponta é a suspensão de direitos, como os de asilo e de refúgio, o que impacta diretamente na vida de migrantes ou nos processos de reunificação familiar que já se encontravam em andamento”.

Nesse ponto, em especifico, ele chama a atenção sobre o aumento da violência e vulnerabilidade contra grupos migratórios. “Ao vermos, no início, o presidente dos Estados Unidos definir o vírus como um vírus chinês ou, então, o Ministro das Relações Exteriores do Brasil, Sérgio Araújo, dizer que a pandemia se trata de um plano comunista, corre-se o risco de associar o vírus a determinadas nacionalidades ou cor de pele. A pandemia mal interpretada por lideranças políticas acaba potencializando a vulnerabilidade de migrantes e refugiados. O resultado é a violência”. Inéditos padrões de migração reversa, tanto transnacionais como nacionais, passam a ser identificados como resposta a essas violências, às atuais restrições de direitos e à falta de segurança sanitária a que muitos grupos passam a estar vulnerados.

SITE

Como dito acima, o projeto denomina-se “Covid-19 y (In)Movilidad En Las Américas” e oferece um site (https://www.inmovilidadamericas.org/) em constante atualização sobre o controle fronteiriço nas Américas durante a pandemia da COVID-19. “A página é de fácil acesso, com informações bem didáticas e enriquecidas com imagens. O objetivo é torná-la um importante repositório e fonte de consulta para a comunidade acadêmica, público escolar e, mesmo, pessoas fora do mundo acadêmico, como os próprios refugiados e associações afins”, explica o professor Gustavo Dias.

Em breve, a página finalizará a produção de vídeos e textos aprofundando o tema. Especificamente para o dia 18 de junho está programada a divulgação virtual da página pelo Laboratório Social (https://sinteseeventos.com/lab/index.php/o-laboratorio), da Síntese Eventos. No dia 8 de julho, o lançamento oficial será por meio do Conselho Latino-americano de Ciências Sociais (CLACSO).

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