Doença tem cura e o tratamento é gratuito pelo SUS; Secretaria de Saúde busca reduzir estigmas e discriminações, além de incentivar o diagnóstico precoce e o tratamento adequado
Abraçar quem amamos é sempre bom. E para que ninguém precise evitar o contato com os amigos e familiares em função da hanseníase, O Governo de Minas, por meio da Secretaria de Estado de Saúde de Minas Gerais (SES-MG) reforça a importância do diagnóstico precoce e do tratamento, que, assim que iniciado, põe fim à transmissão, ambos disponíveis pelo Sistema Único de Saúde (SUS) em todo o estado.
“Quanto mais cedo for diagnosticada a doença, mais oportuno será o tratamento. Por isso a importância de se fazer busca ativa nos territórios para que sejam identificados possíveis casos. A hanseníase tem cura e existe uma rede qualificada para atendimento desses pacientes nos diversos níveis de atenção. Uma vez que os pacientes realizarem o tratamento correto, podem levar uma vida normal e saudável, sem risco de transmissão”, reforça a diretora de Vigilância de Condições Crônicas da SES-MG, Ana Paula Mendes Carvalho.
A hanseníase é causada pela bactéria Mycobacterium leprae, transmitida por meio das vias respiratórias (fala, tosse ou espirro) e atinge a pele e os nervos periféricos como os das mãos e pés, causando a perda de sensibilidade da pele. Se não for tratada, pode evoluir para o comprometimento severo dos movimentos dos membros.
Nos últimos três anos, foram diagnosticados em Minas Gerais uma média de 1.339 novos casos da hanseníase por ano, o que demonstra que há transmissão ativa da doença no estado.
De acordo com a diretora, a transmissão ocorre durante o convívio prolongado com a pessoa que está doente e que ainda não iniciou o tratamento. “É longo o espaço de tempo entre o contágio e o aparecimento dos sinais da doença. Na presença de alguns sinais como manchas de cor esbranquiçada, avermelhada ou acastanhada, mancha com diminuição ou perda de sensibilidade, pele seca e queda de pêlos, dor, sensação de choque, fisgadas e agulhadas ao longo dos nervos dos braços e pernas; nódulos avermelhados e dolorosos no corpo e diminuição da força muscular das mãos, pés ou face, a orientação é buscar imediatamente atendimento médico para avaliação e diagnóstico”, orienta.
Tratamento
O tratamento da hanseníase é realizado por meio de medicamentos que são dispensados gratuitamente nas unidades de saúde. Segundo a médica dermatologista do Hospital Eduardo de Menezes, Ana Cláudia Lyon, o paciente deve ir uma vez por mês à unidade de referência. O tratamento dura entre seis meses e um ano, podendo ser prorrogado, em casos especiais.
“Quanto mais cedo ocorrer o diagnóstico e o tratamento da doença, maiores as chances de cura e de prevenção de suas consequências. A pessoa que manteve ou mantém contato frequente com portador da hanseníase, deve procurar uma Unidade Básica de Saúde (UBS) para uma consulta médica e receber orientações específicas. O tempo médio entre o diagnóstico de hanseníase e o início de tratamento no estado de Minas Gerais é de aproximadamente 13 dias. Após a primeira dose da medicação, não há mais risco de transmissão, podendo o paciente conviver em meio à sociedade”, explica a médica.
De acordo com Ana Cláudia Lyon, é fundamental que todas as pessoas com a doença sejam tratadas e que a avaliação seja expandida para os familiares. “Sempre que fazemos um diagnóstico, temos que avaliar todos os contatos que vivem na mesma casa, mesmo lote ou proximidades, porque pode ser que ali exista uma pessoa com um quadro não diagnosticado. O nosso objetivo é que o número de pessoas diagnosticadas com formas graves da doença, por causa de diagnósticos tardios, seja cada vez menor, e que em um futuro próximo não existam mais”, finaliza.
Assistência
O Estado de Minas Gerais conta com uma Rede de Atenção à Pessoa com Hanseníase, que compreende uma série de ações e serviços de saúde voltados para a prevenção, diagnóstico, tratamento e reabilitação de pacientes com a doença. Essa rede envolve a Atenção Primária à Saúde, os serviços especializados, centros de referência e unidades hospitalares, integrando diferentes pontos do Sistema Único de Saúde, com equipes multiprofissionais compostas por médicos, enfermeiros e fisioterapeutas, que são capacitados para a identificação e acompanhamento dos casos, garantindo um tratamento eficaz e mais qualidade de vida aos pacientes.
A Fundação Hospitalar de Minas Gerais (Fhemig) é a maior prestadora pública de leitos de cuidados prolongados do SUS no país, segundo a diretora assistencial da Fundação, Lucinéia Carvalhais. Grande parte desses leitos está nas Casas de Saúde – centros de reabilitação com destaque para o tratamento da hanseníase, por meio de uma linha de cuidados exclusiva para este público, atendido por equipes multidisciplinares. “Estamos potencializando o que somos capazes de oferecer para atender o que cada região precisa”, destaca a diretora assistencial da Fhemig, Lucineia Carvalhais.
Com a experiência de quase cinco décadas no tratamento da hanseníase, a Fhemig promove, por meio das Casas de Saúde Santa Izabel (CSSI), em Betim; Santa Fé (CSSFe), em Três Corações; São Francisco de Assis (CSSFA), em Bambuí; e Padre Damião (CSPD), em Ubá, a reabilitação das pessoas atingidas pelo bacilo de Hansen e a capacitação de profissionais em todo o território mineiro. Há, ainda, o Hospital Eduardo de Menezes (HEM), em Belo Horizonte, referência estadual nos tratamentos dermatológicos de doenças sanitárias e demais doenças infectocontagiosas.
Segundo a diretora Carvalhais, uma das características desse trabalho é a forma humanizada como ele é realizado atualmente. “O protocolo específico da Fhemig, que padroniza o cuidado nas Casas de Saúde, trabalha de forma cada vez mais integrada com o SUS regional, contribuindo para a redução do preconceito e para auxiliar no acesso dos pacientes a todos os serviços que são ofertados à população da região”, explica a diretora, que também é médica infectologista.
Somente em 2023, as Casas de Saúde da Fhemig realizaram quase 37 mil atendimentos (consultas eletivas e de emergência e atendimentos domiciliares), além de 1.600 internações. Naquele ano, os estabelecimentos se empenharam em promover a modernização e o revocacionamento para unidades de reabilitação. Em outubro, a CSPD se consolidou como um hospital especializado em cuidados prolongados, tendo como principal objetivo promover a reabilitação e/ou adaptação de pacientes com sequelas decorrentes de doenças como a hanseníase, além de cirurgias, traumas e outros processos clínicos. A ampliação, de dez para 40 leitos – um aumento de 300% – além de impactar na qualidade de vida dos usuários da unidade, fortaleceu a infraestrutura de saúde pública de Ubá e da macrorregião, composta por 94 municípios.
Em Três Corações, a inauguração, em outubro, do Serviço de Dermatologia Sanitária possibilitou habilitação para Atenção Integral em Hanseníase Tipo II, aprovada na Comissão Intergestores Bipartite (CIB-MG), o que fortalece o papel histórico da unidade no tratamento dessa doença e a torna referência para a assistência em outras patologias, como câncer de pele e dermatoses ocupacionais.
O revocacionamento dessas unidades é uma oportunidade de maior oferta de serviços integrados à demanda do território, fortalecendo o papel da Fundação enquanto prestador de serviços de média e alta complexidade para o SUS e integrando as unidades às Redes de Atenção à Saúde.
Perfil dos casos
Segundo o Painel Epidemiológico da Hanseníase, disponibilizado pela SES-MG, nos últimos dez anos foram notificados mais de 14,9 mil casos em todo o estado. As regiões Norte, Centro e Triângulo do Norte concentram, juntas, 43,4% das notificações, sendo a Norte, com 2.557 notificações, a Centro, com 1.991 notificações e Triângulo Norte, com 1.930.
A doença pode acometer pessoas de todas as idades e ambos os sexos. A concentração dos casos está em pessoas com idade entre 40 e 59 anos e quase a metade dos casos já apresentava alguma incapacidade física no momento do diagnóstico (alteração de sensibilidade ou deformidade). Também foram registrados 1.062 casos de hanseníase em crianças e adolescentes menores de 15 anos de idade, neste período.
No mês de janeiro de 2024, os dados sobre hanseníase também foram divulgados no Portal de Dados Abertos do Estado de Minas Gerais.
Outras ações
Além do painel, que dá visibilidade e monitora os casos notificados de hanseníase em Minas Gerais, a SES-MG também dá apoio para elaboração e monitoramento dos Planos Regionais de Enfrentamento à Hanseníase com ações direcionadas à realidade de cada território, bem como o apoio técnico às Unidades Regionais de Saúde e municípios.
A SES-MG realiza o gerenciamento e a distribuição de insumos, como os testes rápidos, que auxiliam a realização do diagnóstico entre contatos de casos com hanseníase (domiciliares que moram na mesma casa ou sociais, que convivem muito tempo juntos) e os medicamentos para tratamento da doença. Os testes foram disponibilizados para municípios com casos registrados.
Outra ação importante é a condução do Comitê Estadual de Enfrentamento da Hanseníase, espaço de discussão das ações, que realiza reuniões bimensais com a participação de áreas técnicas da Secretaria de Estado de Saúde, universidades, centros de referência, outros órgãos públicos e da sociedade civil.
Crédito da imagem: SES-MG / Divulgação