Um percentual próximo a 27% de alunos do ensino fundamental e médio, em escolas públicas estaduais do município de Montes Claros, apresentaram índices indesejados do Colesterol Total. O valor médio relativo ao Triglicérides também é preocupante, com 34,1% de estudantes com índices alterados (limítrofe mais indesejáveis). O perfil é constatado no estudo desenvolvido pela professora doutora Claudiana Donato Bauman, do Departamento de Educação e do Desporto, da Universidade Estadual de Montes Claros.

Os dados foram divulgados com a defesa da tese produzida pela pesquisadora no âmbito do doutorado em Ciências da Saúde, primeiro programa de pós-graduação Stricto sensu da Unimontes a alcançar o conceito 6 na avaliação oficial da Capes/MEC – padrão nacional e internacional.

O trabalho de Bauman, que analisa a “Dislipidemia” – ou alteração de lipídeos nos níveis sanguíneos –, foi desenvolvido por amostragem em alunos da rede pública estadual de ensino em Montes Claros, com abrangência projetada para 77,8 mil estudantes de 63 escolas. Os cálculos amostrais foram levantados com base na avaliação de 635 crianças e jovens entre 10 e 16 anos, com coleta de sangue e análise de quatro indicadores. Além do Colesterol Total e do Triglicérides, foram observados os percentuais de LDL-c e HDL-c (este, o chamado “colesterol bom”).

ESTILO DE VIDA INADEQUADO

“Os índices anormais revelados no estudo podem ter caráter genético, mas na maioria das vezes estão associados ao estilo de vida inadequado, principalmente ao sedentarismo e à alimentação hipercalórica, que provocam o aumento do Colesterol Total, do Triglicérides e do LDL-c, além dos baixos níveis de HDL-c”, analisa Claudiana Bauman.

Segundo a pesquisadora, como aspecto conclusivo, estes indicadores podem colaborar com o desenvolvimento precoce de doenças cardiovasculares nestes indivíduos. “Cerca de 40 a 55% de adolescentes não tratados terão problemas metabólicos como a aterosclerose (placas de gordura nas artérias) quando se tornarem adultos”, completa.

Pesquisa CB2018

A amostragem para a pesquisa foi definida a partir do sorteio de quatro entre as 63 escolas relacionadas, desde que todos os quadrantes da cidade – Norte, Sul, Leste e Oeste – fossem contemplados. A coleta de dados aconteceu em agosto de 2016, com exames e avaliações.

O suporte para a abrangência da pesquisa veio do “Fator de Incentivo ao Desenvolvimento do Ensino e Pesquisa Universitária em Saúde”, vinculado ao Programa de Pós-Graduação em Ciências da Saúde/Unimontes, sob orientação da professora doutora Carla Silvana de Oliveira e Silva e co-orientado pelos professores doutores Maria Fernanda Brito e André Luiz Gomes Carneiro. Uma equipe multiprofissional da Unimontes e do Hospital Universitário Clemente de Faria (HUCF), além de acadêmicos dos cursos das diversas áreas da saúde, também trabalharam como voluntários na pesquisa.

COMPARAÇÕES

A autora lembra que, conforme dados das Diretrizes Brasileiras de Dislipidemias e Prevenção da Aterosclerose, de 2017, o nível satisfatório do Colesterol Total para crianças e adolescentes entre dois a 19 anos deve ser abaixo de 170 miligramas por decilitro de sangue (mg/dL). A pesquisa revela que entre os alunos avaliados 26,8% têm índices acima de 170 mg/dL.

Claudiana Baumana2018Quanto ao Triglicerídes, o nível ideal deve ser abaixo dos 90 mg/dL, mas 34,1% dos estudantes analisados tem níveis entre 100-129 mg/dL ou mesmo igual ou acima a 130 mg/dL. Sobre o LDL-c, o valor é considerado normal até 110 mg/dL e, na pesquisa, 26,2% dos jovens apresentam taxas que variam entre 100 e 129 e até maior que 130 mg/dL.

No que diz respeito ao HDL-c, a diretriz aponta como normal, valores acima de 45 mg/dL e, na pesquisa, o maior percentual de anormalidade: 40,8% têm níveis abaixo do ideal.

Na conclusão da tese, a professora Claudiana Bauman considera os resultados como alarmantes. “Com exceção do HDL-c, as médias e a prevalência de alterações em Montes Claros estão acima dos valores de estudos similares sobre a base populacional brasileira”.

Ao mesmo tempo, a pesquisadora revela que, com o ineditismo do estudo para o município, com abrangência nesta faixa etária, os dados revelados podem subsidiar a criação e implantação de políticas públicas de saúde, focadas excepcionalmente na saúde de crianças e adolescentes.

Um dos produtos finais da pesquisa é um vídeo que fala sobre o risco de doenças cardiovasculares ainda na adolescência diante da incidência dos fatores de risco. O material será divulgado a partir desta semana, inicialmente, nas 63 escolas que participaram da amplitude dos estudos.

Os pais e responsáveis dos estudantes considerados como “grupo de risco pelas alterações nos índices examinados” tiveram acesso aos dados assim como aos laudos e orientações para controle da saúde dos jovens e adolescentes. Os familiares foram convidados a participar de uma palestra educativa Em um segundo momento, entre fevereiro e junho de 2017, os alunos deste mesmo grupo passaram a realizar exercícios físicos sistematizados e planejados individualmente, ao longo de quatro meses.

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