A Unimontes e o ranking das universidades brasileiras

(*) JOíO DOS REIS CANELA

O jornal Folha de São Paulo divulgou em sua edição do dia 3/9/2012, o “Ranking Universitário Folha”. Trata-se de publicação elaborada a partir dos critérios “qualidade de ensino”, “qualidade de pesquisa”, “avaliação do mercado” e “indicador de inovação”. É inegável reconhecer que o levantamento servirá como referência para avaliar a situação do ensino superior no País, oferecendo efetiva contribuição para as melhorias no setor.

No que se refere à Universidade Estadual de Montes Claros (Unimontes), classificada na 90ª posição entre 191 instituições, se faz necessário enfatizar que esta universidade, criada há 50 anos, atua como agente transformadora da realidade social, cultural e econômica do Norte de Minas e do Vale do Jequitinhonha, regiões historicamente marcadas pelas dificuldades impostas pelas adversidades climáticas e pelo Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) ainda abaixo da média de outras regiões de Minas e do País.

A sua área de atuação abrange 35% do território de Minas Gerais, alcançando uma população superior a 2,5 milhões de habitantes. Com o perfil de universidade de integração regional, a Unimontes tem como missão “contribuir para a melhoria e a transformação da sociedade, atender às aspirações e aos interesses de sua comunidade e promover o ensino, a pesquisa e a extensão com eficácia e qualidade”. Exerce o papel preponderante na transformação da vida das pessoas, através da formação de recursos humanos e da geração do conhecimento.

É imensurável a prestação de serviços à comunidade, em diversos setores, como o da saúde, com mais de 500 mil procedimentos anuais realizados por seu Hospital Universitário Clemente de Faria – o único da região que oferece atendimento exclusivamente gratuito, bancado pelo Sistema Único de Saúde (SUS) – que também é referência em pesquisas em diversas doenças e na saúde preventiva.

Atualmente, a Unimontes oferece 53 cursos regulares e outros 48 na modalidade a distância com 9.705 acadêmicos regularmente matriculados. Conta ainda com 2.010 alunos na pós-graduação Lato sensu e Stricto sensu. Ainda na sua proposta de promover a inclusão e reduzir as desigualdades, a universidade foi uma das primeiras instituições de ensino superior no País a adotar o sistema de cotas, com a reserva de 45% de suas vagas para afrodescendentes (20%) e egressos de escolas públicas (20%) – com carência comprovada – e indígenas/portadores de deficiência (5%).

Ainda temos muito a evoluir, até porque a universidade é uma obra inacabada. Ela está envolvida num processo de melhoria contínua, que precisa exercer a sua função de vanguarda na própria evolução humana e na inovação tecnológica.

No entanto, vale ressaltar que, ao longo dos últimos anos, dentro do contexto da publicação do “Ranking Universitário Folha”, obtivemos diversas conquistas, que devem chegar ao conhecimento do grande público. Por exemplo: na última edição do Exame Nacional de Desempenho de Estudantes (Enade/MEC), divulgada em 2011, de sete cursos da Unimontes, seis alcançaram conceitos máximos (Agronomia, Educação Física Bacharelado, Enfermagem, Medicina, Odontologia e Zootecnia). A qualidade do ensino oferecido também é atestada com o recebimento de notas máximas em avaliações oficiais periódicas promovidas por órgãos competentes, como o Conselho Estadual de Educação de Minas Gerais (CEE/MG).

Além disso, há um trabalho interno de monitoramento e aferição de todos os cursos, desenvolvido de forma permanente, através da Comissão de Avaliação Institucional. A referida Comissão atua em completa integração com a comunidade acadêmica – inclusive egressos – levando-se em conta todos os sistemas regulatórios de avaliação oficiais e outros indicadores a respeito da qualidade da educação superior do País. Este trabalho fomenta as reflexões internas no sentido de se tirar o máximo de proveito dos levantamentos para se implementar ações práticas e medidas eficientes na busca pela excelência do ensino.

A qualificação docente é compreendida como um processo ininterrupto na universidade, com repercussão direta na melhoria da qualidade de ensino e no incremento da pesquisa e da inovação. A questão recebe total prioridade, com a implantação de um arrojado programa que tem como escopo a expansão dos cursos de mestrados e doutorados.

Atualmente, a Unimontes conta com 479 projetos de pesquisa em andamento, somando 45 grupos de pesquisa e 164 linhas de pesquisa. Com o apoio do Governo de Minas e de órgãos de fomento como o Conselho Nacional do Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes) e a Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de Minas Gerais (Fapemig), são empreendidos esforços para o maior volume de investimentos na pesquisa e na pós-graduação. Somente em 2011, foram aplicados R$ 11.705.715,84, sendo R$ 7.137.076,24 na pesquisa científica e tecnológica e R$ 4.568.679,35 na pós-graduação.

Ao longo dos seus 50 anos, a Unimontes já graduou mais de 47 mil profissionais nas diversas áreas do conhecimento. Pesquisas demonstram que 80% deles atuam nas áreas de abrangência da instituição. Entretanto, muitos dos nossos egressos ocupam postos de destaque em empresas e na carreira pública em diferentes regiões do País.

Dos quatro indicadores que nortearam a confecção do Ranking Universitário Folha (RUF) observa-se que dois deles não demonstram claramente quais as metodologias métricas que foram adotadas para aferição. O indicador “Avaliação do Mercado” baseou-se numa consulta destinada a aproximadamente 1,2 mil profissionais atuantes na área de Recursos Humanos (RH), cuja distribuição geográfica e os indicadores de formação e atuação não são claramente expostos. Assim, este indicador deveria apresentar uma maior clareza no processo amostral e, particularmente, contar com uma distribuição espacial nacional.

Também seria importante atentar-se para o perfil das universidades que apresentam, por exemplo, foco na missão “Integração e Desenvolvimento Regional” – como é o caso da Unimontes. E, ainda, como equilibrar as instituições localizadas em grandes centros geográficos com aquelas situadas em áreas periféricas do Brasil.

Com relação ao segundo indicador “Qualidade do Ensino” é essencial o respeito e a utilização de programas desenvolvidos pelo Sistema FINEP/MEC como o ENEM e o SINAES. A adoção de tais indicadores facilitaria a melhor análise desta dimensão e possibilitaria uma melhor comparação entre o sistema universitário brasileiro. Observa-se que a qualidade do ensino no País restringiu-se a um grupo de aproximadamente 600 profissionais e suas respectivas escolhas em relação a instituições brasileiras citadas.

No quesito “Inovação”, embora se reconheça a importância do registro de patentes, este indicador não é facilmente normatizado entre as instituições de ensino superior brasileiras, visto que a vocação e a atuação das mesmas são bastante heterogêneas. Além disso, tal processo, até bem recentemente, era limitado à atuação da indústria.

Percebe-se, particularmente, na vertente “Qualidade da Pesquisa”, que as práticas de pesquisa e pós-graduação da Unimontes destacaram-se mostrando assim um perfil de crescimento exponencial. Para efeito de comparação, a Universidade de São Paulo, primeira colocada no RUF, apresentou um valor 54,38 pontos nesse quesito, enquanto a Unimontes alcançou um conceito aproximadamente 50% da pontuação obtida pela USP.

Com relação ao perfil da Unimontes nos critérios acima mencionados percebe-se, principalmente – quando se analisa a inserção no mercado de trabalho, desempenho nos cursos de graduação e pós-graduação e, também, o perfil do egresso –, que tais indicadores são claramente relevantes para a ação universitária, em vista de sua proposta de transformação e crescimento de toda uma área do Estado de Minas Gerais, que se beneficia dessa plataforma de ensino, gestão, pesquisa, extensão e a contínua geração de conhecimento através dos programas de pós-graduação.

Também se pode destacar, que nesta linha de análise do RUF, é preciso reconhecer que causa preocupação a pontuação obtida pela Unimontes na qualidade de ensino e avaliação do mercado de trabalho.

As informações expostas representam apenas alguns dos feitos desta universidade, que como outras, se esforça para romper as dificuldades e melhorar a educação superior. Nesse patamar, compreendemos a importância de indicadores como o “Ranking Universitário Folha” no sentido de apontar caminhos para o incremento do ensino, da pesquisa e da extensão, funcionando como uma ferramenta inquestionável para que as universidades possam dar um salto de qualidade, buscar a excelência e oferecer a sua contribuição para a melhoria da qualidade de vida e o desenvolvimento do nosso País.

(*) Reitor da Universidade Estadual de Montes Claros

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