As pessoas portadoras da gagueira, muitas vezes, enfrentam o preconceito e a discriminação. A professora, Viviane Bernadeth Gandra Brandão, do curso de Serviço Social da Universidade Estadual de Montes Claros (Unimontes), enfrenta a gagueira e tornou-se referência na superação do problema. Ela auxilia outras pessoas que são portadoras do transtorno.

A professora Viviane é graduada em Letras Espanhol e Serviço Social e concluiu o doutorado em Educação. Ela é docente do Programa de Pós-Graduação Stricto Sensu (Mestrado) em Educação (PPGE) da Unimontes. Atua ainda no Programa de Pós-Graduação Stricto Sensu (mestrado profissional) em Educação Inclusiva (Profei), oferecido em rede nacional, por meio de parceria com a Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes).

Integrante do comitê científico da Associação Brasileira de Gagueira (Abra Gagueira), a professora ministra palestras sobre a gagueira em eventos locais, nacionais e internacionais. Em maio deste ano, ela participou do Stutterfest 2024 (Festival da Gagueira), promovido pela World Stuttering Network (Rede Mundial da Gagueira), por meio do sistema virtual, sediado na Flórida (EUA). A representante norte-mineira abordou o tema “Ressignificando seu lugar na Educação: aluna que Gagueja tornou-se professora do ensino Superior”. O evento teve várias atividades, com transmissão online em diferentes línguas (inglês, português, japonês e espanhol).

Viviane Brandão participou das atividades do Fórum Nacional promovido pela Sociedade Brasileira de Fonoaudiologia. Marcou presença nas reflexões sobre o transtorno no Dia Internacional de Atenção à Gagueira, organizado pela Associação Brasileira de Gagueira; e na Jornada “Amigos da Gagueira”, da “Oficina de Fluência”. Em outubro último, foi uma das debatedoras da mesa redonda “Gagueira no ambiente escolar”, promovida pela Coordenação do Programa de Pós-Graduação Stricto Sensu em Educação.

A professora do curso de Serviço Social da Unimontes explica que, em suas abordagens, orienta e faz reflexões sobre o enfrentamento do preconceito à pessoa que gagueja. “Enfatizo que a gagueira é um distúrbio do neurodesenvolvimento e ratifico a todo momento o respeito a diversidade da fala das pessoas que gaguejam. Gagueira não tem graça. Tenha respeito!”, afirma Viviane.

Superação do preconceito

Os portadores da gagueira enfrentam preconceitos de diferentes formas e lidam com o desafio da superação. “Os preconceitos mais comuns são risos, brincadeiras e piadas sobre a fala da pessoa que gagueja, que são ações do capacitismo recreativo”, avalia.

Ela ressalta que a postura de outras pessoas de não ter paciência em ouvir o que a pessoa com a gagueira tem a dizer ou tentar completar a sua frase não é recomendado, tornando-se algo excludente. “Não existe fala perfeita. Todas as pessoas falam diferente e a gagueira é só uma forma de falar. Penso que uma das formas de superar esse preconceito é com a educação, informando, orientando a sociedade”, assegura a doutora em Educação da Unimontes.

Viviane integra um grupo de apoio às pessoas (maiores de 18 anos) que gaguejam em Montes Claros, no qual atua como moderadora. “Faço este trabalho voluntário porque sou uma pessoa que gagueja desde os quatro anos de idade. Também porque vivenciei muito com piadas, risos e olhares, julgamentos das pessoas. Sei o que pessoas que gaguejam vivenciam e sofrem. Por isso desenvolvo este trabalho, que contribui para a vida das pessoas que gaguejam. Trocamos experiências. Falamos das nossas angústias, desafios e do progresso com o nosso processo de autoaceitação da gagueira”, relata.

Inspiração para outras pessoas que sofrem da gagueira

“Penso a gagueira como uma causa coletiva. Nem todas as pessoas que gaguejam tiveram as oportunidades que eu tive. Dessa forma, quero contribuir com essas pessoas. Então, para muitos, ver uma pessoa que gagueja atuar como professora do ensino superior inspira muitos, visto que existe um número alto de pessoas que gaguejam que param de estudar, devido ao preconceito e à ausência de estratégias inclusivas nas escolas em relação à pessoa que gagueja”, declara a docente.

Conto minha experiência de vida cheia de desafios devido ao fato de minha fala ser diferente. Falo que a gente pode ser o que quiser e podemos ser. Por isso, levo informações cientificas e atuais sobre a gagueira e relato meu processo de autoaceitação com a gagueira

Viviane ressalta a importância do trabalho de conscientização coletiva. “O meu trabalho nos grupos de apoio é de fortalecer, socializar , incentivar a pessoa que gagueja. Na sociedade, o trabalho é um desafio. A todo momento, busco levar informações corretas e desmistificar o discurso sobre gagueira existentes, além de orientar profissionais da educação sobre como lidar com a pessoa que gagueja. Pois, a pessoa que gagueja sabe exatamente o que quer falar, não peça para ela respirar, ficar calma e falar. Ela sabe realmente o quer dizer, ela só precisa que os ouvintes tenham paciência, fiquem calmos, mantenham o contato visual e saibam esperar o tempo de fala de cada pessoa”, esclarece.

O que é a gagueira

Conforme a professora Viviane Brandão, a gagueira é um transtorno do neurodesenvolvimento da fala, que se manifesta por repetições, bloqueios e prolongamentos na fala. “A gagueira é involuntária e individual, pois cada um pode gaguejar de uma forma”, diz.

Ela explica que estudos demonstram que a causa da gagueira é uma condição do neurodesenvolvimento, multifatorial, com forte influência genética. É uma diferença no funcionamento do cérebro na área da fala. “É importante ressaltar, que o nervosismo pode exacerbar a gagueira em algumas pessoas que já tem o transtorno do neurodesenvolvimento da fala, mas não pode causá-la”, assegura.

“A gagueira não tem cura, mas tem tratamento para melhorar a qualidade de vida da pessoa que gagueja, como acompanhamento fonoaudiológico com um profissional especialista em fluência, e em alguns casos, pode ser necessário o acompanhamento psicológico. Além disso, a participação nos grupos de apoio às pessoas que gaguejam, auxilia bastante, pois, permite o convívio com outras pessoas que gaguejam e essa socialização, essa troca de experiências, ajuda no processo pessoal com a gagueira”, enfatiza Viviane Brandão.

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