O setor microfinanceiro deve estar adequado à realidade local para o pleno desenvolvimento econômico de regiões mais pobres e, ainda, para amenizar as desigualdades sociais e econômicas. A conclusão é do estudo apresentado pela professora Luciana Maria Costa Cordeiro, do departamento de Ciências Econômicas da Universidade Estadual de Montes Claros (Unimontes).
A pesquisa “As microfinanças como Instrumento de Inclusão Financeira: uma Análise com base no Desempenho das Atividades no Brasil” foi produzida como tese no programa de Doutorado Interinstitucional em Economia Unimontes/UFMG. O levantamento empírico investigou o processo evolutivo de atividades de microcrédito entre 2001 e 2010 em Minas Gerais. Além de docente, Luciana Cordeiro já trabalhou no setor de microcrédito em meados de 2002, quando começou os estudos relativos à tese.
“O desenvolvimento local e espacial está condicionado à oferta de serviços financeiros adequados a essas realidades. A pesquisa informa, ainda, que a oferta de microcrédito e de outros produtos do sistema microfinanceiro brasileiro não colabora para a redução da exclusão social e financeira das pessoas mais pobres”, explica.
Na avaliação apresentada pela professora, o modelo, ao contrário, “reproduz os mesmos comportamentos de exclusão praticados pelo sistema de crédito tradicional, que mantêm boa parcela da população à margem do sistema financeiro”.
Elaboração da Tese

Professora Luciana Cordeiro aponta que eficiência do microcrédito está na inclusão social (divulgação)
“A ideia era produzir uma publicação sobre as políticas de moeda social. A discussão é relevante, pois amplia o debate sobre a inclusão social no País. O trabalho se concentrou em analisar os serviços oferecidos ou não pelo setor financeiro à parcela de menor renda da população, relacionando-os com indicadores de pobreza e exclusão social e econômica”, justificou Luciana Cordeiro.
Dentre outros, foram analisados os sistemas de microcrédito no Sul da África, Europa Oriental, Europa Central, Oriente Médio e Sul da Ásia, regiões que foram comparadas ao perfil apresentado pela região da América Latina e Caribe, além das às áreas consideradas mais pobres, como o Vale do Jequitinhonha e o Norte de Minas.
Dados reproduzem exclusão
A pesquisadora enfatiza que o cruzamento dos dados demonstrou que a oferta de microfinanças reproduz a exclusão atualmente em curso no sistema financeiro tradicional, “porque ela não é realizada nas regiões mais pobres, onde há mais necessidade, mas, sim, nos grandes centros urbanos, como as Regiões Metropolitanas”, comenta.
“É uma tendência natural, pois, para os operadores financeiros, é mais funcional e prático operar em um mercado já consolidado, naturalmente bom pagador”, acrescenta a pesquisadora. A tese sustentada pela professora da Unimontes afirma que “as microfinanças podem colaborar para uma mudança do cenário, mas precisam ser ofertadas nas regiões menos desenvolvidas. “Meu estudo aponta que as esses serviços se fazem mais efetivos quando alocados em regiões econômica e financeiramente mais carentes”, ressalta.
Outro aspecto percebido: os produtos do modelo de sistema microfinanceiro brasileiro estão formatados sob os mesmos moldes dos produtos de crédito tradicionais. Fator que, conforme explica a professora, contribui para que não sejam efetivos na redução da desigualdade.
Impulso social
“O sistema microfinanceiro pode ser um instrumento impulsionador do desenvolvimento social. Tal premissa se daria por meio da multiplicação da renda da população e do fomento às atividades produtivas”, argumenta a pesquisadora.
A tese indica, ainda, que há uma demanda real por crédito nas áreas mais pobres, mas que a oferta atual não é adequada e não está localizada de forma a supri-la. O estudo mostra ainda que 65% das instituições microfinanceiras do País não são regulamentadas. “A regulamentação dessas IMFs impactaria positivamente na capacidade do setor de colaborar para a redução da desigualdade”.
A pesquisa foi apresentada no Centro de Desenvolvimento e Planejamento Regional (Cedeplar) da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), em dezembro último, e mereceu destaque na mídia educacional, sendo orientada pelo professor Marco Aurélio Crocco Afonso e coorientada pela professora Ana Maria Hermeto Camilo de Oliveira, ambos do Cedeplar.