A história e a memória do Santos Reis, um dos bairros mais antigos de Montes Claros foram objeto de uma pesquisa da Universidade Estadual de Montes Claros (Unimontes) que resultou em um livro. O estudo também focaliza o Centro da principal cidade do Norte de Minas. A obra “Cidade, Imprensa e História Oral: Pensando o Bairro Santos Reis e o Centro de Montes Claros” foi publicado pela Editora Unimontes.
O projeto, financiado pela Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de Minas Gerais (Fapemig), foi desenvolvido no âmbito dos departamentos de História e de Educação, vinculados ao Centro de Ciências Humanas. A coordenação foi da professora Filomena Luciene Cordeiro, que organizou o livro juntamente com a professora Súsi Karla Almeida Santos, do departamento de História.
Foram dois anos de estudos. “A pesquisa teve como objetivo constituir e conhecer histórias e memórias do Bairro Santos Reis e da região central de Montes Claros, assim como registrar as vivências de seus moradores e suas ações transformadoras, especialmente em relação às dimensões econômica, política, social, religiosa e cultural”, explica a professora Filomena Cordeiro (departamento de História).
Conforme a pesquisadora, o trabalho teve como fonte material da imprensa local e a história oral propriamente dita, com recorte temporal de 1932 até os dias atuais. A equipe de trabalho foi integrada, ainda, pelos professores João Olímpio Soares dos Reis (departamento de Educação), Mary Aparecida de Alencar (História) e pelos acadêmicos Felipe Ribeiro Ruas e Natália Andrade Ruas – bolsistas da Fapemig.
COTIDIANO – A pesquisa contempla também o cotidiano da cidade e do Bairro Santos Reis nas décadas de 1930 e 1940, tendo como referência edições do extinto jornal “Gazeta do Norte” no período. Por intermédio da antiga publicação, foram verificadas questões como o saneamento básico, saúde, educação, segurança e modos de vida – festas, religiosidade e costumes.
ORIGEM DE ANTIGO NOME
O estudo resgata o histórico do Bairro Santos Reis junto aos antigos moradores. Uma das questões pesquisadas diz respeito ao antigo nome da região, que era chamada popularmente de “Malhada Santos Reis”. “Esse nome surgiu porque o local serviu para a passagem de tropeiros. Eles viajavam tocando boiadas e paravam em determinado local, onde hoje está a lavanderia comunitária do Santos Reis. Como o gado também ficava no mesmo lugar surgiu o nome malhada”, explica a pesquisadora. No linguajar regional do Norte de Minas, malhada – ou “maiada” – é o local onde os bois passam a noite.
Ela observa que, atualmente, o nome “Malhada Santos Reis” não é bem recebido pelos moradores, que o consideram pejorativo. Por outro lado, Filomena Cordeiro salienta que o Santos Reis já carregou um estigma de ser um bairro violento, o que também foi abordado no estudo. “Mas, na verdade, a constatação foi que o Santos Reis é um bairro de trabalhadores. Muitas pessoas se mudaram para aquela região da cidade para trabalhar em empresas instaladas no Distrito Industrial de Montes Claros (próximo dali)”, relata.
O estudo revela que o Santos Reis passou por uma grande transformação no decorrer de mais de 80 anos de sua existência. “Hoje, o bairro conta com posto de saúde, escola, posto policial, farmácias, lojas e praticamente todos os serviços que os moradores precisam”, afirma Filomena Cordeiro.