Pesquisadores coletaram 9.471 plantas e deste total, identificaram 1.192 espécies diferentes. Do município de Mariana até o Oceano Atlântico, a mata ciliar se diferencia em 99%, o que mostra a necessidade de um reflorestamento cuidadoso.
As florestas de Mata Atlântica que ficam às margens do Rio Doce são muitas. Pesquisadores da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) e da Universidade Estadual de Montes Claros (Unimontes) coletaram 9.471 plantas ao longo de 663 quilômetros de margens do curso d ‘água.
Esse trecho vai de Mariana, na Região Central de Minas Gerais, até a foz, em Regência, no Espírito Santo. Os cientistas identificaram 1.192 espécies diferentes, de 75 famílias de plantas. (leia mais abaixo)
O Rio Doce foi contaminado pela lama de rejeitos da barragem de Fundão, que se rompeu no dia 5 de novembro de 2015.
Os distritos desapareceram, 19 pessoas morreram e a biodiversidade da região foi afetada. Este é considerado o maior desastre ambiental do país.
Diversidade
O que os números da pesquisa dizem? Segundo os pesquisadores, diante de tanta variedade de plantas ao longo da mata ciliar, é preciso pensar em um projeto de reflorestamento que leve em conta as espécies típicas de cada trecho. Isso garante a manutenção da biodiversidade.
Onde foram feitas as coletas das plantas? Os pontos escolhidos se basearam no local do rompimento da barragem, no conhecimento de moradores das comunidades ribeirinhas e também em áreas onde a Mata Atlântica está bem preservada.
Qual a importância das áreas preservadas nesta pesquisa? Estes espaços conservados servem de base para a recuperação das áreas devastadas, não só pela tragédia de Mariana, mas também pelo desmatamento.
Segundo os pesquisadores, desde que houve o rompimento da barragem de Fundão, população e meio ambiente sofrem, todo ano, o impacto da lama de rejeitos de minério.
“O resíduo de mineração agora repousa no leito do rio, tornando-o mais raso. Durante cada estação chuvosa, esse material é agitado e redistribuído para as margens quando há enchentes. Com o passar de muitos anos, talvez centenas, esse efeito pode diminuir gradualmente. As florestas ribeirinhas desempenham um papel crucial ao atuarem como uma barreira e filtro natural. Elas previnem a erosão e o assoreamento do rio”, explicou o coordenador da pesquisa, o professor Geraldo Wilson Fernandes.
Ao longo de sete anos de pesquisa, novos profissionais foram convidados a participar dos trabalhos e se integraram à equipe. Entre eles, a bióloga Letícia Ramos, do Laboratório de Ecologia Evolutiva da UFMG.
Há dois anos ela é a responsável por organizar e discutir entre os integrantes as informações levantadas e também a escrita da pesquisa.
“A importância deste reflorestamento bem feito é porque a Mata Atlântica, hoje em dia, é apenas 12% do que era, com a vegetação altamente fragmentada. A mata ciliar do Rio Doce, se bem restaurada, pode servir de corredor ecológico e com isso ligar as diferentes matas e proporcionar uma circulação segura dos animais. Além disso, a preocupação dos envolvidos na pesquisa é devolver mais qualidade de vida para as populações que habitam as proximidades da mata, afinal o Rio Doce fornece água para milhões de pessoas”, explicou a bióloga Letícia Ramos.
Relembre a tragédia de Mariana
Em 5 de novembro de 2015 a barragem de Fundão se rompeu, em Mariana.
Mais de 50 milhões de metros cúbicos de rejeitos atingem, em 16 minutos, o distrito de Bento Rodrigues. Em 16 dias, contaminam o Rio Doce de Mariana até o Oceano Atlântico, onde deságua o rio.
A maior tragédia ambiental da história da mineração, também afeta a vida de 2 milhões de pessoas de 39 cidades em Minas Gerais e Espírito Santo e provoca 19 mortes.
O Ministério Público Federal denuncia 22 pessoas e 4 empresas: Samarco, Vale, BHP e Vog BR. No momento há 11 réus.
Link do vídeo: https://g1.globo.com/mg/minas-gerais/video/pesquisadores-descobrem-que-mata-ao-longo-do-rio-doce-tem-mais-de-1200-especies-12620264.ghtml
Por Ana Carolina Ferreira, g1 Minas