Identificar e analisar os reflexos que a saída sazonal de trabalhadores provoca na organização das famílias e do espaço geográfico no município de Minas Novas – Alto Vale do Jequitinhonha, a partir da impressão dos filhos e filhas dos cortadores de cana. Este é o foco da pesquisa “Os reflexos da Transumância na Organização Sócio-Espacial de Minas Novas – Os órfãos da Cana”, coordenado pelo professor doutor Anderson Bertholi, do Departamento de Geociências, da Universidade Estadual de Montes Claros (Unimontes).

O estudo, que segue em andamento, é financiado pela Fundação de Amparo à Pesquisa de Minas Gerais (Fapemig), por meio do Programa Institucional de Bolsas de Iniciação Científica para o Ensino Médio (Pibic-Júnior). O trabalho de campo, realizado em junho passado, possibilitou a vivência com os filhos dos cortadores de cana, que, anualmente, deixam o Vale do Jequitinhonha para o trabalho em áreas de usina de açúcar e álcool no interior de São Paulo e outros estados.

As pesquisas foram iniciadas em março de 2017 e devem ser concluídas em fevereiro de 2018, com a possibilidade de prorrogação. O levantamento é feito por amostragem. Mas, de acordo com o responsável, o objetivo é fazer um mapeamento completo das famílias dos cortadores de cana.

A bolsista Cecília Mendes, de 15 anos, aluna do primeiro ano do ensino médio da Escola Estadual Presidente Costa e Silva, participa dos trabalhos. Chamou atenção um depoimento recebido por ela: da professora Geni Silva, líder comunitária de Campinho do Cansanção, na zona rural de Minas Novas. Ela revela que cerca de 90% dos homens em idade adulta do lugar saíram para o trabalho de corte de cana em outros estados.

Na casa da família Santos, cujo pai José, 48 anos, deve passar oito meses no corte de cana no interior da Bahia, foram ouvidos outros relatos importantes para a pesquisa. Três gerações com pontos de vista diferentes: o filho mais velho, Poliano, 26, seguiu o exemplo do pai e já esteve na atividade canavieira. O mais novo, Ramon, de 4 anos, aguarda ansioso pelo presente prometido por José. Já André, 17, o filho do meio, está cursando o ensino médio na escola da comunidade e encheu-se de esperança ao ver a equipe da Unimontes em sua casa. “Quero trabalhar com a lavoura, mas depois de me formar na faculdade”, disse.

PROXIMIDADE

O professor Anderson Bertholi ressalta que a escolha pelo Vale do Jequitinhonha como recorte espacial da pesquisa se deu com o propósito de levar a universidade até a região. “A presença da Unimontes em Minas Novas, por meio da iniciação científica, fomenta um sonho antigo da comunidade. Fazer brotar a ciência, a partir dos próprios atores locais. é edificar, de maneira consistente, as oportunidades para aquela gente acessar o espaço amplo de construção de conhecimento desta que é uma instituição diferenciada no Norte e Nordeste de Minas e que tem a potência de ampliar os horizontes desses jovens sedentos por algo que transforme suas vidas de fato”, destaca.

A pesquisa passa agora para a fase de compilação de dados, quando a bolsista deve vir a Montes Claros, conhecer o campus da universidade e utilizar os laboratórios para os estudos. A apresentação dos resultados preliminares está prevista para novembro, durante o Fórum de Ensino, Pesquisa, Extensão e Gestão (Fepeg).

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