Uma pesquisa desenvolvida pela Universidade Estadual de Montes Claros aponta soluções para reduzir o índice de mortalidade em recém-nascidos prematuros e de muito baixo peso. O trabalho é coordenado pelo professor-doutor Antônio Prates Caldeira, pediatra no Hospital Universitário Clemente de Faria (HUCF), com base em dados e observações práticas da Unidade de Terapia Intensiva Neonatal e da Maternidade Maria Barbosa, considerada referência para gestantes de alto risco. O trabalho foi publicado na Revista Paulista de Pediatria.

As informações foram apuradas nos prontuários de bebês prematuros nascidos entre janeiro de 2007 e junho de 2010 com peso inferior a um quilo e meio. Foram observadas as condições da gestação e de parto, além das características físicas/sociais de cada criança e das mães. Nesse mesmo período, o HUCF registrou 286 dos 610 nascimentos de crianças abaixo de 1,5 quilo no município de Montes Claros – o que corresponde a 46,9% do total.

Dos 286 casos de bebês prematuros, 184 prontuários foram selecionados para o estudo e, desses, 44 apresentaram registro de óbito (23,9%), todos eles relacionados ao baixo peso – inferior a um quilo. Outros registros significativos dizem respeito às mães adolescentes (22,8%), sem vida conjugal estável (49,5%), com escolaridade inferior ao ensino médio (55,5%) e ainda com registro de menos de quatro consultas pré-natal (27,7%).

Intervenções necessárias

Os resultados do estudo, segundo o professor Antônio Prates Caldeira, demonstram que ainda há falhas na assistência pré-natal e, ao mesmo tempo, uma necessidade latente de melhoria em relação aos cuidados perinatais. “Os recém-nascidos de muito baixo peso se apresentam como uma população específica que necessita de intervenções permanentes para reduzir a taxa de mortalidade”, explicou.

Outro fator importante associado ao maior risco de óbito para o grupo estudado foi o reduzido número de consultas pré-natal realizadas pelas mães – abaixo de 4. “É certo que um número elevado de consultas pré-natal não traduz necessariamente boa qualidade da assistência. Todavia, o número reduzido aponta obrigatoriamente para uma dificuldade de acesso ou atendimento tardio à gestante, aspectos que refletem uma qualidade crítica da assistência pré-natal”, completou o pesquisador.

Antônio Prates Caldeira

Professor Antônio Prates Caldeira apresenta resultado dos estudos (foto: Felipe Gabrich)

Antônio Prates Caldeira considera que este aspecto [dificuldade de acesso à assistência] deverá ser mais bem abordado em estudos futuros, pois o aumento apenas numérico de consultas médicas pode não ter um resultado favorável de forma direta.

“Nas últimas décadas, o País como um todo teve uma significativa redução da mortalidade infantil, sobretudo à custa da redução da mortalidade chamada “pós-neonatal”, que é aquela que ocorre após as quatro primeiras semanas de vida. Essa mortalidade é mais sensível à melhoria das condições de vida da população. Por outro lado, o componente “neonatal” da mortalidade infantil, que é aquela que ocorre nas primeiras quatro semanas de vida e está principalmente relacionada às condições de gestação e acompanhamento pré-natal e também depende de uma boa estrutura hospitalar, especialmente com distribuição maior dos leitos de UTI neonatal e com adequada capacitação profissional para o atendimento ao recém-nascido de risco”, observou o pesquisador.

Ainda de acordo com o pesquisador, o estudo avaliado e aprovado pelo comitê de Ética em Pesquisa da Unimontes possibilitou o conhecimento da sobrevida de recém-nascidos de muito baixo peso admitidos pela UTI neonatal do HUCF, referência para o Norte de Minas Gerais. “O percentual de óbitos é elevado, mas próximo do que foi registrado em outras instituições do país. O Brasil permanece com níveis elevados de óbitos em relação a outros países”, acrescente Antônio Prates Caldeira.

No interior do estado de São Paulo, a taxa de mortalidade para o grupo de bebês de muito baixo peso variou entre 29,5% a 36,2%, entre 1995 e 2000. No município do Rio de Janeiro, o percentual de óbitos para o mesmo grupo variou de 10 a 37% em quatro maternidades avaliadas. Em Fortaleza/CE, o percentual foi bem mais elevado: 51,2% para a mortalidade hospitalar em recém-nascidos com menos de 1500g. É importante registrar que estudos internacionais também mostraram resultados similares nos países em desenvolvimento.

Realidade do Norte de Minas

O estudo destaca também a realidade socioeconômica do Norte de Minas, que possui uma população entre 1,5 milhão e dois milhões de habitantes e apenas 28 leitos de Unidades de Terapia Intensiva para atendimento a crianças, incluindo-se nesse contingente os leitos para neonatos prematuros.

“Os dados deverão ser objeto de análise e reflexão por parte das entidades governamentais, subsidiando medidas voltadas à reestruturação da rede assistencial materno-infantil, com foco na redução da mortalidade neonatal.

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