Revelado pelo projeto FC Unimontes, a Escolinha da Universidade Estadual de Montes Claros, João Victor Souza Cruz, de 17 anos, vive a oportunidade de jogar futebol nos Estados Unidos. Há seis meses, ele se mudou para a América do Norte como parte de um projeto de intercâmbio na Academia Militar da cidade de Mexico, no estado do Missouri, onde concilia o esporte com os estudos e com a rotina das Forças Armadas norte-americanas. O rendimento, segundo o atleta que se tornou cadete, foi acima da expectativa, já que recebeu três prêmios em menos de um ano na nova casa.
Em férias na cidade, João Victor retornou nesta semana à sede da Unimontes onde tudo começou para compartilhar as primeiras experiências nos EUA com o treinador Alexandre Caribé e com os antigos companheiros de projeto. Reconheceu como determinante a experiência no FC Unimontes para a melhor adaptação fora do País. “A disciplina que às vezes a gente achava ruim aqui, pelo jeito brasileiro de se reunir e jogar, lá é uma coisa muito séria e pode custar até mesmo a sua permanência não apenas no time, mas também na escola”.
Tão logo se candidatou ao projeto de intercâmbio, João Vitor passou a se preparar, com um curso intensivo de inglês e pesquisas sobre a cidade onde moraria. “Pode parecer algo comum, mas isso me fez sentir mais independente, pró-ativo, porque nos Estados Unidos eu estou sozinho, distante da família e dos amigos. Precisaria ser mais focado e mais determinado para sentir o menos possível a adaptação, que não foi fácil”, disse. Até se acostumar com o estilo de alimentação de lá, João Vitor ganhou quase dez quilos. “O café da manhã é uma refeição como o almoço e o jantar”, lembrou.
NOVO NOME
As mudanças não foram apenas de ambiente e de cultura. No Brasil, João Victor jogava como meio de campo. Lá, por causa da boa estatura e do estilo tático adotado pelo treinador da escola, passou a jogar mais à frente. Ele é um dos cinco brasileiros da escola, que chama a atenção pela quantidade de estrangeiros – há alunos de 40 países diferentes, da Tailândia ao México. A forma como é chamado também mudou. Nos EUA, as pessoas são identificadas pelo sobrenome, especialmente numa escola militar. Assim, o cadete tornou-se Souza e joga como centroavante.
E nestes primeiros seis meses em Mexico, cidade com menos de 15 mil habitantes na região norte do Estado, Souza foi vice-campeão distrital no Missouri. Numa comparação com o Brasil, é algo como ser o segundo melhor time do Estado. Além disso, foi eleito o melhor jogador ofensivo da competição e integra a seleção do campeonato, no chamado “onze ideal”. Fora dos gramados, mais um reconhecimento: recebeu a medalha de prata como o segundo melhor aluno estrangeiro em fluência na língua inglesa. Como prêmio, além da menção honrosa, um prêmio de US$ 200,00. Outra boa notícia foi a ampliação da bolsa: de 80 para 90% de isenção na escola.
QUER FICAR
Com o bom rendimento dentro de campo e na sala de aula, o jovem montes-clarense faz planos de permanecer nos Estados Unidos. No sistema educacional de lá, quando o aluno inicia o último ano do ensino médio é obrigatório se cadastrar para concorrer vagas nas universidades – não há vestibular; o candidato é aceito pela avaliação de currículo. E culturalmente, segundo Souza, o esporte está diretamente ligado a esta avaliação, já que praticamente todas as modalidades têm suas ligas universitárias em nível nacional, com direito a cobertura de imprensa e a concessão de bolsas de estudo.
“Um dos brasileiros que esteve comigo na Academia Militar foi recentemente chamado para uma Universidade. Ele atua como goleiro e, como atleta de destaque, recebeu uma bolsa de 95% de desconto. O inglês fluente e as premiações pessoais que ele alcançou aqui foram determinantes para ser selecionado. Os americanos incentivam muito o esporte no ambiente escolar. Mesmo que você não se torne um atleta de ponta, a prática saudável de uma atividade física acompanhará a pessoa pelo resto da vida”, enfatizou o jovem, que esteve ao lado do pai Nielson Cruz.
Fora da Academia Militar, a aproximação com brasileiros também ajudou na adaptação. Há um conterrâneo que é pastor de uma Igreja Evangélica em Mexico e ele tem sido referência para cumprir uma das exigências no currículo local. Cada aluno tem o compromisso de cumprir 20 horas de serviços comunitários em casa série. Em geral, Souza e os demais brasileiros atuam como voluntários nas campanhas de limpeza e de atendimento às famílias carentes, como organização de refeições beneficentes.