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Fotos: Christiano Jilvan – Ascom Unimontes
As genuínas manifestações populares do Estado, como o batuque dos quilombolas da comunidade de Lapinha, em Matias Cardoso, marcaram a abertura oficial do VI Colóquio Internacional dos Povos e Comunidades Tradicionais, organizado pela Universidade Estadual de Montes Claros, em parceria com diversas instituições do país e do exterior.
O evento foi realizado na noite dessa terça-feira (25/9), no campus-sede, com centenas de participantes entre representantes indígenas, quilombolas, geraizeiros, barranqueiros, pescadores e catadores, além de pesquisadores e acadêmicos dos cursos de graduação, de mestrado e doutorado.
No discurso de abertura, o novo doutor Honoris Causa da Unimontes, o ambientalista Braulino Caetano dos Santos, fez um apelo para que os povos tradicionais sejam mais ouvidos e respeitados pela sociedade: “quem vive na terra sabe muito bem o que ela sente: o cerrado está morrendo, o solo cada dia mais comprometido, falta água e está faltando comida”.
Na sequência, Braulino sugeriu que a sabedoria popular jamais seja ignorada e que, na verdade, seja perpetuada junto ao conhecimento científico da academia para a preservação do meio ambiente. Como ação efetiva para isto, revelou um sonho: a criação do curso superior em Agroecologia no Norte de Minas.
VALORES
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Na mesa de abertura, o cacique Damião Paridzané, fez questão de se pronunciar na língua nativa dos indígenas dos Marãiwatsédé, do Mato Grosso. Traduzido pelo filho, fez outro pedido: “unificar o apoio na luta dos povos pelos seus direitos às tradições è às terras”. Lembrou-se do próprio histórico de violência na década de 40, quando as famílias eram expulsas de suas terras e, muitas vezes, assassinadas. “Que isto não aconteça mais”, conclamou.
Já a líder comunitária Alícia Moraes, do Movimento Catadoras de Mangaba (Sergipe), lembrou do surgimento da Comissão Nacional de Povos e Comunidades Tradicionais (CNCPT), em 2005, como um dos principais marcos na reivindicação destes direitos. E citou avanços, como o decreto de conversão da comissão em Conselho Nacional, efetivado em 2018, sendo que os representantes legais das mais diversas comunidades foram devidamente ouvidos.
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QUILOMBOLAS
Manoel da Conceição Neto faz parte da comunidade da Lapinha, em Matias Cardoso, local onde residem 170 famílias de remanescentes de escravos. O grupo de sua comunidade fez a condução de Braulino dos Santos até a mesa dos trabalhos, numa espécie de ritual de boa sorte, como explicou. Segundo ele, participar do Colóquio é uma afirmação para sua comunidade, que tem fortes laços com a Unimontes por meio das pesquisas antropológicas com os quilombolas. “A Universidade é uma grande parceira e tem sido importante em nosso reconhecimento legal”, completou, ao se referir aos estudos do professor João Batista de Almeida Costa na região da Lapinha.
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Konmannanjy, que adota o nome ancestral do povo Ambundu, vive na Bahia. Considera o evento como um “reconhecimento aos povos emanados, mas que até bem pouco tempo estavam à parte em seus próprios territórios”. Para ele, o Colóquio traduz toda a união: “começamos a dar o braço uns aos outros”.
O representante explica que o povo Ambundu integra o grupo Bantu e descende dos primeiros negros escravizados trazidos da África para o Brasil, em 1573, em geral dos atuais países Angola, Moçambique e parte do Congo.
“Ainda encontramos diversas barreiras, preconceitos e intolerâncias religiosas, mas conseguimos manter todas as nossas tradições em línguas e costumes, além da própria religião. Somos um povo de terreiro”, disse ao explicar que a língua bantu denominada Kibundu é mantida na comunicação diária do seu povo.
O Colóquio prossegue até o dia 27 de setembro (sexta-feira), no campus-sede, com mesas redondas, conferências e debates, além da Feira Popular de Economia Solidária, com artesanatos, alimentos, produtos fitoterápicos, dentre outros.
ORGANIZAÇÃO
A organização é do Programa de Pós-Graduação em Desenvolvimento Social (mestrado e doutorado), juntamente com a Comissão Nacional de Povos e Comunidades Tradicionais (CNPVT), Centro de Agricultura Alternativa do Norte de Minas (CAA-NM), Universidade de Kassel (Alemanha) e a Igreja Suíça de Evangelização (HEKS). As professoras doutoras Andréa Maria Narciso Rocha de Paula e Felisa Anaya presidem a comissão organizadora. Pela Unimontes, são co-realizadores os os grupos de pesquisa Niisa (Núcleo Interdisciplinar de Investigação Socioambiental) e pelo Opará (Grupo de Pesquisa e Estudos sobre Migracão e Comunidades Tradicionais/CNPq).
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