Evento realizado na Unimontes constatou que o Norte de Minas já tem municípios no clima árido
A área do clima semiárido do Brasil aumentou, conforme revisão territorial feita neste ano de 2024. A nova extensão mostra que a mesorregião do Norte de Minas, conforme classificação do IBGE, está inteira incluída na área do semiárido, que duplicou em cinco anos. Além disso, muitos municípios já passaram a integrar o clima árido, como é o caso de cidades como Gameleira, Espinosa e Mamonas.
Os dados foram apresentados nesta sexta-feira (14/06/2024), em Montes Claros (Norte de Minas), no quinto encontro regional do Seminário Técnico Crise Climática em Minas Gerais: Desafios na Convivência com a Seca e a Chuva Extrema, realizado pela Assembleia Legislativa de Minas Gerais (ALMG) para buscar soluções capazes de minimizar os impactos da crise climática, realizado na Biblioteca Central da Universidade Estadual de Montes Claros (Unimontes).
Na presença de autoridades regionais, gestores municipais, vereadores, acadêmicos e órgãos ambientais que lotaram o evento pela manhã, o presidente da ALMG, deputado Tadeu Martins Leite (MDB), abriu o encontro regional alertando para a importância do seminário e frisando sua construção coletiva, por mobilizar mais de 60 parceiros e praticamente todas as universidades de Minas.
“Agradeço a parceria da Unimontes para a realização desse seminário e quero destacar a importância dessa participação como berço de grandes pesquisadores. O seminário foi lançado em 14 de março, antes, portanto, da tragédia que assola o Rio Grande do Sul desde maio. Mas o que aconteceu lá só reforça a urgência do tema”, pontuou o deputado.
Segundo Tadeu Martins Leite, extremos climáticos gritantes têm ficado cada vez mais em evidência. “A estiagem afeta muito a região, mas também temos que aprender a conviver com as chuvas fortes em espaços curtos de tempo. O importante é se debruçar sobre a discussão de ações, de forma técnica como tem sido feito pela Assembleia neste seminário”, destacou o presidente do Legislativo Mineiro.
O vice-reitor da Unimontes, professor Dalton Caldeira Rocha, participou do seminário representando o reitor Wagner de Paulo Santiago e também agradeceu a parceria com a ALMG. “Eu acredito que as soluções e os possíveis enfrentamentos à seca no Norte de Minas podem se dar sobre dois pilares: o primeiro pilar é o da pesquisa, onde soluções criativas e técnico-científicas possam ser apresentadas para que o debate possa ser franco, com a busca de meios tecnológicos avançados para combater esses eventos extremos, como o excesso de chuvas ou a falta de água. E o outro pilar, a universidade tem um papel importante de transformar comportamentos em atitudes das pessoas pela educação, para assim conviver melhor com esses eventos.”
O seminário segue ainda para dois últimos encontros regionais, da série de sete, em Uberlândia, nesta segunda (17), e em Unaí (Noroeste), na sexta (21), antes da etapa final, em agosto, na ALMG.
Em apresentação sobre o panorama climatológico da região após a abertura do encontro, realizado na Unimontes, o professor Mário Marcos do Espírito Santo, do Departamento de Biologia Geral da Unimontes, ainda acrescentou que nos últimos 40 anos o nível dos rios diminuiu 20% por década na região. Houve no período uma queda de 7% no volume de chuvas e um aumento de 18% na seca hidrológica (1979-2016).
Os dados preocupantes sobre a diminuição de chuvas e aumento de temperatura por ele apresentados fazem parte de estudo feito por professores da USP e do Instituto Federal de Januária, a partir de dados do Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet) sobre estações climáticas no Norte de Minas. Outro estudo citado por Mário Marcos do Espírito Santo, feito no Parque Nacional Cavernas do Peruaçu, em Januária, mostrou um aumento sem precedentes na temperatura dos últimos 70 anos.
A pesquisa analisou a Caverna da Onça, preservada sem impactos da presença humana, e nela foi verificada uma estabilidade na temperatura até 1950. Mas de lá para cá, a temperatura na caverna sofreu um aumento de 3 graus, confirmando que há uma tendência de alta, com reflexos maiores em se tratando de áreas já ocupadas pelo homem. “Apesar das variações anuais, a partir de 1950 é incontestável que a temperatura vem aumentando, sendo preciso considerar também o efeito humano na questão. Não há mais tempo para o negacionismo climático, e no Norte de Minas isso fica muito claro”, frisou.
Perda de bioma original supera 40%
Mário Marcos do Espírito Santo ainda destacou que, no Brasil, assim como no Norte de Minas, o fator que mais tem contribuído para o aquecimento global não é a queima de combustíveis fósseis, e sim o desmatamento. Segundo o professor da Unimontes, o Norte de Minas perdeu mais de 40% de sua vegetação natural de cerrado e mata seca. Ele considerou que extremos de estiagem e chuvas preocupam, sim, mas que no Norte de Minas prevalece a preocupação com os efeitos da seca, puxados pela perda de vegetação.
São vários os cenários estudados, sendo o melhor possível o razoavelmente suportável e, no pior, a seca tomando tudo; é catastrófico”, resumiu sobre a situação. Ele ainda registrou preocupação com as epidemias que podem surgir da perda de cobertura vegetal, a exemplo do que já tem ocorrido com arboviroses como a dengue.
Estudos da Unimontes, segundo ele, mostraram a relação entre desmatamento e dengue, tendo sido o Norte de Minas muito afetado pela doença e a região do Estado que mais teria perdido vegetação entre 2009 e 2019, quando o balanço foi negativo.
Deputados apontam urgência do tema
A vice-presidente da ALMG, deputada Leninha (PT), também defendeu ações de convivência, mas também de prevenção a questões ambientais e climáticas, com mais recursos. “É preciso de fato uma ação incisiva também no Orçamento do Estado, porque sem isso e sem prevenção, daqui a pouco teremos os refugiados ambientais”, alertou Leninha.
O deputado Gil Pereira (PSD) ressaltou, por sua vez, que, apesar das dificuldades, o Norte de Minas tem contribuído para a transição energética do Estado, respondendo por mais de 90% dos investimentos em energia limpa, importante para o meio ambiente, conforme frisou.
O deputado Arlen Santiago (Avante) também abordou a questão orçamentária para dar suporte ao enfrentamento das questões climáticas, criticando os altos juros cobrados por conta da dívida do Estado com a União. O deputado Oscar Teixeira (PP) defendeu a importância do seminário e ilustrou as variações climáticas citando que, na véspera, Montes Claros amanheceu com 14 graus, chegando a 30 graus horas depois.
Também presente, a deputada Lohanna (PV) elogiou as discussões. “Se Minas politicamente é uma síntese do Brasil, do ponto de vista ambiental também somos, por isso é tão importante a Assembleia ter a possibilidade de estar nos territórios, perto do cidadão, com este seminário”, ressaltou ela.