Não há caminho para o Brasil se tornar mais competitivo que não passe pela inovação e, nesse contexto, a formação proporcionada pelo Ciência Sem Fronteiras, conjugada a estágios que possibilitem aprendizado na prática, deve ser vista pelas empresas como uma ação estratégica e um investimento para o futuro. É o que indicam gestores do programa que participaram da força-tarefa de Ciência Sem Fronteiras (CSF) da Amcham-São Paulo nesta segunda-feira (29/10).

 

 “A inovação é uma questão de sobrevivência, não de moda. O Brasil cresceu muito nos últimos anos e não consegue mais concorrer em custos com nações do sudeste asiático nem tem o nível de competência de alguns países desenvolvidos. Não há outro caminho para o Brasil além da inovação”, argumenta Marcos Vinicius de Souza, diretor de fomento à inovação do Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior (MDIC). “As empresas devem pensar nas bolsas do Ciência Sem Fronteiras não como doação, mas investimento para capacitar futuros funcionários”, completa.

O Ciência Sem Fronteiras é um programa criado pelo governo federal que prevê a concessão de 101 mil bolsas de estudo (sendo 75 mil pela iniciativa pública e 26 mil pela privada) na área de ciências duras em um período de quatro anos. A meta é contribuir para a expansão da ciência e tecnologia, inovação e competitividade no País.

A Amcham assumiu um importante papel no programa ao facilitar o acesso dos estudantes a  estágios no exterior, a fim de complementarem sua experiência acadêmica com uma atuação prática em empresas com forte viés inovador. Para viabilizar essa atuação, a Amcham assinou acordos com o CNPq (Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico) e a Capes (Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior) e constituiu uma força-tarefa para discutir ideias e experiências sobre o programa de estágios.

Leia mais: EUA demonstram interesse por mandar estudantes para estudar e estagiar no Brasil, nos moldes do Ciência Sem Fronteiras

Mais de 100 universidades americanas recebem brasileiros

Assim que o programa CSF foi lançado em julho de 2011, mais de cem universidades americanas se prontificaram a receber os alunos brasileiros, conta Allan Goodman, CEO do Instituto de Educação Internacional (IIE, na sigla em inglês). “Hoje, são 128 universidades em território americano que abrigam dois mil alunos brasileiros.”

Nos EUA, o IIE é o parceiro oficial do CSF, responsável por mapeamento de universidades e alojamentos para estudantes.

O programa de mobilidade científica do governo federal foi elogiado por Goodman pela rapidez com que foi implantado e a sua abrangência. “Não conheço nenhum outro programa desses no mundo, com ênfase em conhecimento prático e ênfase no retorno ao País”, constata.

Goodman disse que o programa tem um grande potencial de formar cientistas de alto nível no País. “Talvez o primeiro Nobel brasileiro venha de um aluno do CSF”, projeta.

Programa com foco

O grande desafio para o futuro brasileiro é transformar ciência e tecnologia em componente estruturante do desenvolvimento e avançar em direção à economia do conhecimento, destaca Glaucius Oliva, presidente do CNPq. “Se não investirmos na formação dos nossos melhores quadros, em capacitação de pessoas, não teremos condições de ser um país desenvolvido. Poucas vezes no Brasil tivemos oportunidades de fazer programas com foco como agora [com o Ciência Sem Fronteiras].”

Conforme Oliva, além de mais cientistas e engenheiros, o Brasil também precisa urgentemente de pesquisadores graduados, em nível de doutorado. “Nossos 12 mil doutores que se formam por ano estão longe de ser suficientes”, lamenta.

Para isso, o governo trabalha para lançar até o final do ano o programa Ciência Inovadora Brasil, um complemento ao CSF voltado à formação de mestres e doutores para a área industrial. Serão oferecidas 6 mil novas bolsas por ano durante três anos, totalizando 18 mil, adianta.

“O candidato terá um coorientador ou co-supervisor que esteja na indústria. Nas universidades, ele ganha a bolsa por seis meses e tem que achar uma demanda de pesquisa em indústria e escrever um projeto no qual a empresa é parceira. A contrapartida é o apoio da companhia ao projeto”, detalha o presidente do CNPq.

Jorge Guimarães, presidente da Capes, também elogia o CSF. “Trata-se da retomada de programas anteriores dos anos 60, 70 e 80 e que depois se reduziram, mas em um patamar bastante especial, centrado nas áreas tecnológicas, agrárias, de saúde e exatas. É um programa diferente, com prioridades”, avalia.

De acordo com Guimarães, a média brasileira é de 1,4 doutores por mil habitantes, e o objetivo do governo é elevar o índice para seis doutores por mil habitantes nos próximos anos. Esse nível aproximaria o País do Canadá e da Austrália, mas ainda é distante de outros centros desenvolvidos como a Suíça, que tem 23 doutores por mil habitantes.

Para Guimarães, as características da política de formação tecnológica brasileira incentivam a aplicação dos conhecimentos adquiridos no exterior no Brasil. “Quase todo mundo volta, diferente do que ocorre com nossos vizinhos, em que os estudantes vão e não voltam”, afirma.

Brasil-EUA

O intercâmbio de estudantes brasileiros aos Estados Unidos é uma forma de reforçar os laços de amizade entre os dois países, segundo John Matel, relações públicas da Embaixada dos EUA. “As conexões que estamos promovendo devem ser continuadas [pelas empresas]. O Brasil é um parceiro importante, com quem temos muito a aprender.”

Luiz Loureiro, presidente da Comissão Fullbright, reforça que o trabalho conjunto entre instituições brasileiras e americanas contribui para a melhoria das relações bilaterais. Nos EUA, a comissão ajuda o IIE na tarefa de receber estudantes brasileiros.

“Tanto mandamos brasileiros aos EUA quanto recebemos americanos no Brasil. Isto só tem sido possível com respeito mútuo a partir de parcerias que existem há décadas entre Capes, CNPq e nossa comissão. Isso é extremamente respeitável.”

 

Fonte: Ciência Sem Fronteiras

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