O Hospital Universitário Clemente de Faria (HUCF) deu um passo importante no enfrentamento à Doença de Chagas ao realizar o lançamento do Projeto CHARGE – Doença de Chagas e Rastreio em Gestantes na manhã desta quarta-feira, 18 de dezembro. Realizado no auditório do HUCF, o evento reuniu profissionais de saúde, acadêmicos e especialistas para reforçar a relevância do diagnóstico precoce e do acompanhamento especializado de gestantes e parturientes afetadas pela doença.
O projeto, coordenado pela professora Thallyta Maria Vieira, responsável pelo Laboratório Multiusuário em Doenças Infecciosas e Parasitárias da Unimontes, tem como principal objetivo o rastreamento e o tratamento de mulheres grávidas atendidas no HUCF. A iniciativa visa combater a transmissão vertical – de mãe para filho – do protozoário Trypanosoma cruzi, além de conscientizar profissionais de saúde e a população em geral sobre a prevenção e o tratamento adequado.
A mesa de honra da cerimônia contou com a presença de convidados ilustres, como Iuri Simões Mota, superintendente do HUCF; Maria das Dores Magalhães, pró-reitora de Pesquisa da Unimontes; Priscilla Pimenta de Oliveira, coordenadora da Vigilância Epidemiológica de Montes Claros; Bárbara Cerqueira Santos Lopes, gerente de enfermagem da Maternidade e Bloco Obstétrico do HUCF; Deijane Coelho, advogada e líder do Grupo Mulheres do Brasil Núcleo Montes Claros; e Alana Vitor Barbosa da Costa, bióloga e mestranda em Biotecnologia pela Fundação Ezequiel Dias (FUNED).
Bárbara Cerqueira, gerente de enfermagem, destacou a relevância do projeto: “Um evento como esse, de uma magnitude tão grande, terá impacto direto na assistência aos pacientes de uma zona endêmica significativa como a nossa, que, muitas vezes, não possuem acesso à informação e são muito carentes”.
Outro destaque do evento foi a participação do infectologista espanhol Pau Bosch-Nicolau, especialista em doenças tropicais. Ele abordou os avanços no tratamento da Doença de Chagas e reforçou a importância do rastreamento em gestantes. Segundo o especialista, “as crianças tratadas podem ser curadas, já que o medicamento apresenta maior efetividade e menor toxicidade nos pequenos. Quanto mais cedo o diagnóstico e o tratamento, melhor será a qualidade de vida dessas pessoas”.
Thallyta Maria Vieira explicou que, idealmente, o rastreio deveria ser realizado durante o pré-natal. Contudo, a ausência de uma política pública que inclua o teste nas consultas pré-natais levou o HUCF a realizar os exames no momento do parto. “Estamos em uma região endêmica, e os dados que vamos coletar serão fundamentais para mostrar a relevância desse rastreio e lutar por políticas públicas que implementem o teste no pré-natal, como já ocorre em Goiás”, afirmou.
Durante o evento, foi apresentado o planejamento do estudo piloto, que busca estabelecer um fluxo completo de cuidado, envolvendo diagnóstico, tratamento e acompanhamento de gestantes e recém-nascidos. “Queremos amarrar todos os elos do cuidado – diagnóstico, tratamento e acompanhamento – para que essas práticas se tornem rotina no atendimento à mulher e ao recém-nascido”, destacou Thallyta.
A coordenadora também ressaltou a importância do engajamento das gestantes no projeto, incentivando-as a realizar os testes de sorologia pelo SUS ou com seus médicos no pré-natal. “Esperamos que, com os resultados do estudo, seja possível ampliar o alcance para a atenção primária e vigilância, garantindo que o rastreio seja feito de forma sistemática”, concluiu.
O CHARGE tem o potencial de transformar a saúde pública no Norte de Minas ao fortalecer o cuidado às gestantes e recém-nascidos. Além disso, pode servir como um modelo para futuras políticas públicas, com impacto duradouro no enfrentamento à Doença de Chagas, promovendo diagnósticos e tratamentos mais acessíveis e eficazes.
