Despertar o olhar do espectador a partir de referências de uma das figuras mais famosas e influentes da história da arte ocidental. O hall do Centro de Ciências Humanas (CCH) – prédio 2 da Unimontes recebe, desde 21 de novembro, a exposição “Na Ponta dos Dedos”.
Trata-se de uma série de sete telas bordadas à mão, com linha e agulha sobre tecido, que remetem à técnica do pontilhado de Vincent Willem Van Gogh, o pintor holandês que criou mais de dois mil trabalhos em pouco mais de uma década.
Doutor em Estudos Literários pela UFMG, professor do Departamento de Comunicação e Letras da Unimontes, Osmar Oliva é o autor da mostra. Ele lembra que “as peças foram produzidas em 120 dias, durante o luto de minha mãe”.
A mostra “Na Ponta dos Dedos” fica em exposição até 30 de novembro, no campus-sede da Unimontes.
NA PONTA DOS DEDOS*
Por que bordar?
Sou um homem inquieto, sensível, curioso, criativo. Há pouco tempo, lembrei-me da minha mãezinha bordando, sentada à porta de nossa pobre casa. Sem bastidor, apenas um pequeno tecido, agulha e linha de uma só cor em suas pequenas mãos. Ela toda pequenina, frágil, mãe de nove filhos. E me ensinava coisas: lavar, passar, cozinhar, cuidar da casa e dos irmãos menores. Eu, o filho do meio dos 9. Eu, o filho talvez mais perto dela. O menino que buscava lenha para o fogão, na fazenda de seu Luiz Simões; o menino que preparava o almoço e levava para ela, quando lavava roupa no rio. O anjo infante que tentava protegê-la do meu pai bêbado e furioso. Lembrando da minha mãezinha, vieram juntas as memórias de um tio artesão, que também bordava. Há menos de 4 meses, minha pequenina se foi para sempre. E então eu bordei, dias e dias sem parar. Eu não sabia, mas cada ponto era uma tentativa de preencher um vazio e um buraco imensos dentro de mim. Quando dei por conta, tinha 6 bordados prontos, com as marcas simples que logo denunciam um artista aprendiz. Mas eu não desisti, apesar das imperfeições, e resolvi bordar o sétimo desenho, em analogia com o plano bíblico da criação. Bordei, portanto, como se estivesse acariciando minha mãezinha com a ponta dos dedos, como realização dos carinhos que eu não soube expressar. Bordei sete desenhos como memória de um amor que ela compreendia, mesmo sem minhas palavras. Quantas vezes a agulha me furou o dedo, e o sangue gotejava, para que eu saísse do torpor em que me encontrei nesses quase 120 dias de luto. Bordei, mãe, alinhavando cada ponto como um registro do homem humano, contraditoriamente bruto demais e hipersensível ao mundo e ao outro que a senhora me fez, com seu olhar de ternura e sorriso de orgulho que me enevoam a alma e o espírito. Os pontos dos meus 7 bordados são todas as lágrimas derramadas no tecido, metáforas do pranto não chorado no dia da sua morte!
*Crônica escrita pelo professor Osmar Oliva
SERVIÇO
Local: Hall do CCH – campus-sede da Unimontes
Data: 21 a 30 de novembro