O pesquisador Carlos Alberto de Carvalho Fraga, matriculado no Doutorado em Ciências da Saúde da Universidade Estadual de Montes Claros (Unimontes), foi selecionado para a concessão de uma bolsa do Conselho Nacional do Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) para cursar o “doutorado-sanduíche” no Max Delbruck Center For Molecular Medicine (MDC), na cidade de Berlim (Alemanha), um dos maiores institutos de pesquisas em saúde do mundo.
Carlos Alberto, que já concluiu o Mestrado em Ciências da Saúde na Unimontes, realiza pesquisa ligada ao tratamento do câncer, identificando mecanismos biológicos relacionados com o desenvolvimento de tumores malignos.
“O nosso objetivo é testar um novo alvo terapêutico para o tratamento dos tumores sólidos, que são os tumores como os do câncer de cabeça e pescoço e também do câncer de próstata. Serão feitos testes do uso de um composto específico com a capacidade para redução do tamanho dos tumores e diminuição da metástase”, explica Carlos Alberto, que tem 25 anos, é natural de Bocaiuva (Norte de Minas) e graduou-se em Ciências Biológicas pela Unimontes em 2009. Em 2011, concluiu o Mestrado em Ciências da Saúde e iniciou o doutorado na mesma área.
PRIMEIRO CONTEMPLADO
Ele é o primeiro aluno da Unimontes contemplado no Programa Institucional de Bolsas de Doutorado Sanduíche no Exterior (PDSE). Para isso, concorreu em edital do CNPq, divulgado em nível nacional. Conforme os critérios do programa, Carlos Alberto vai continuar seu estudo durante um ano no Max Delbruck Center For Molecular Medicine (MDC), que realiza pesquisas voltadas para a prevenção, o diagnóstico e tratamento de diversas doenças.
O doutorando em Ciência da Saúde tem como orientador na Unimontes o professor André Luiz Sena Guimarães. No MDC, em Berlim, o seu orientador será o professor doutor Michael Bader. Ele também tem como co-orientadores os professores Alfredo Maurício Batista de Paula (Unimontes) e Sérgio Henrique Souza Santos, da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG).
Carlos Alberto de Carvalho Fraga vai viajar para a Alemanha em 13 de agosto. Conforme as normas do programa, além das passagens aéreas, durante o período em que estiver em Berlim, o doutorando da Unimontes vai receber do CNPq uma bolsa mensal de 1 mil e 300 euros, auxílio instalação e seguro-saúde. Ele iniciou o Doutorado em Ciências na Saúde há um ano e seis meses.
Como o curso tem duração prevista de três anos e o aluno vai permanecer durante um ano na Alemanha, quando retornar ao Brasil, terá mais seis meses de estudo antes de defender a tese para a conclusão do doutorado.
A importância do envio do seu primeiro aluno da Unimontes contemplado com a bolsa sanduíche do CNPq para estudar no exterior é ressaltada pelo professor André Luiz Sena Guimarães. “Este fato representa algo inédito para a internacionalização da universidade”, afirma André Luiz, lembrando que a seleção do aluno para o programa internacional contribui com a avaliação da qualidade dos cursos e do ensino oferecido pela instituição.
O aluno Carlos Alberto Fraga também destaca a relevância da conquista. “Realmente, é uma responsabilidade muito grande representar a Unimontes internacionalmente. Mas, claro, também é um sentimento de grande alegria”, afirma, acrescentando que nunca saiu do Norte de Minas. “Até então, tenho apenas uma rotina de viagens entre Montes Claros e Bocaiúva, onde mora minha família”, confessa.
O ESTUDO
A pesquisa realizada pelo doutorando Carlos Alberto de Carvalho Fraga tem como denominação “Estudo do Efeito da internalização da Proteína Ang-(1-7) e seu receptor MAS na expressão do gene hif-1 α”. “Estudamos mecanismos envolvidos no carcinoma epidermóide de cavidade bucal, especialmente aqueles relacionados à patogenia da doença. É de interesse principal as ações da proteína HIF-1 α, chave reguladora das respostas locais e sistêmicas à hipóxia que ocorrem durante os processos normais e pato-fisiológicos e, portanto, com grande potencial terapêutico”, explica Carlos Alberto.
O pesquisador descreve, ainda, que, “recentemente, nosso grupo demonstrou que em resposta a fatores secretados pelo tumor primário, HIF1-α é aumentado em linfonodos não metastáticos. As células expressando HIF1-α alteram o microambiente, auxiliando no estabelecimento de metástases. Diferentemente, Ang-(1-7) inibe a proliferação de células endoteliais, reduzindo a proliferação de células tumorais, a densidade microvascular, associando-se, ainda, com a redução de fatores de crescimento, tais como VEGF e PlGF”.
Por fim, explica Carlos Alberto: “o estudo do efeito da internalização da proteína Ang-(1-7)/ receptor Mas na expressão do gene HIF-1 α pode revelar achados importantes para o comportamento clínico e biológico da doença. Este estudo favorecerá um melhor entendimento de eventos moleculares específicos associados à hipóxia, angiogênese e à ocorrência de metástases linfonodais. Ainda, a realização deste estudo pode possibilitar a identificação de novos alvos para pesquisa terapêutica”.
O CENTRO DE ESTUDOS DE BERLIM
Fundado em 1992, o Max Delbruck Center For Molecular Medicine (MDC), de Berlim, é considerado um dos maiores centros de pesquisas em saúde do mundo. Conforme informações disponíveis (em inglês) no site do MDC, a instituição ocupa a 14ª posição em ranking da Agência Reuters, que listou os 20 melhores institutos de pesquisa sobre biologia molecular e genética do planeta. Ainda conforme as informações disponibilizadas pelo MDC, a sua missão é “desenvolver pesquisas moleculares e suas aplicações para a prevenção, diagnóstico e tratamento de doenças humanas”.
O Instituto, que conta com um hospital de clínicas em Berlim, dispõe de 1,4 mil integrantes, entre médicos, pesquisadores e funcionários. “Com cerca de 300 estudantes de doutorado em PhD em diversos programas de graduação, o MDC tem contribuído para a formação de uma nova geração de cientistas”, informa a instituição através do seu site oficial.
Atualmente, a instituição alemã movimenta, por ano, cerca de 68 milhões de euros investidos em sua manutenção e nos estudos voltados para a prevenção, diagnóstico e tratamento de doenças; 90% do seu orçamento é assegurado pelo Governo Alemão e outros 10% do Estado de Berlim. Os investimentos do MDC são complementados com outros 24 milhões de euros anuais, obtidos pelo instituto através de suas pesquisas e contribuição de parceiros. O MDC tem 57 grupos de pesquisa e desenvolve estudos em torno de três classes de doenças que têm enorme impacto para a sociedade: “doenças cardiovasculares e doenças metabólicas”, “câncer” e “doenças do sistema nervoso”.