“Onde tem vereda, tem água. Existem muitas veredas que estão morrendo de sede. Elas estão nos mostrando que se não cuidarmos do meio ambiente, vamos ficar sem água”. O alerta foi feito pela professora e pesquisadora Maria das Dores Magalhães Veloso, do Departamento de Ciências Biológicas da Universidade Estadual de Montes Claros (Unimontes), durante a audiência pública “Situação das Veredas do Cerrado Brasileiro”, na Câmara dos Deputados, em Brasília, na tarde dessa terça-feira (11/04). Na oportunidade, também foram discutidas as ações e a necessidade de liberação de mais recursos para estudos voltados para a preservação ambiental.
A audiência pública foi promovida pela Comissão de Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável da Câmara Federal, requerimento do deputado José Silva (SD-MG). Entre outros parlamentares, participaram do encontro, os deputados Saraiva Felipe (PMDB-MG), Raquel Muniz (PSD-MG), Leonardo Monteiro (PT-MG) e Adelmo Carneio Leão (PT-MG). O evento teve a participação do Superintendente da Companhia de Desenvolvimento dos Vales do São Francisco e Parnaíba em Minas Gerais (Codevasf), Rodrigo Rodrigues e do Coordenador Estadual em Minas Gerais do Departamento de Obras Contra as Secas (DNOCS), Guilherme Dias Ramos, juntamente com especialistas, prefeitos e lideranças do Norte e Noroeste de Minas e do Estado de Goiás. A audiência reuniu ainda lideranças de Montes Claros como presidente da Câmara Municipal, Claudio Prates (PTB) e mais 16 vereadores. Eles foram à Capital Federal com o objetivo de discutir medidas para solução do problema de escassez hídrica do município e da região norte-mineira.
Doutora em Engenharia Florestal, a professora Maria das Dores Veloso coordena o projeto “Vereda Viva”, desenvolvido pela Unimontes em parceria com o Ministério Publico Estadual. Com a participação de estagiários e acadêmicos do mestrado em Biologia da Unimontes, a equipe monitora o estado de preservação das nascentes e, ao mesmo tempo, os impactos de um dos mais importantes ecossistemas do Cerrado.
O quadro de comprometimento das veredas em Minas Gerais foi tema de uma série especial do jornal Estado de Minas, publicada em outubro de 2016, que teve como uma das principais fontes a pesquisa da professora Maria das Dores Veloso, que revelou que 70% das veredas estão ameaçadas de desaparecer em curto prazo. O trabalho marcou a comemoração dos 60 anos do livro “Grande Sertão: Veredas”, do escritor mineiro João Guimarães Rosa.
CONFIRA NA ÍNTEGRA APRESENTAÇÃO DA PESQUISADORA DA UNIMONTES (PDF)
Com base em reportagens, o deputado José Silva requereu a realização da audiência pública, com objetivo de analisar o grau de degradação das áreas de veredas no Norte de Minas e no Noroeste do Estado, regiões onde se concentram as nascentes de centenas de rios e córregos que formam a bacia do Rio São Francisco. O jornalista Luiz Ribeiro, autor da série de reportagem, também foi um dos palestrantes do encontro que teve como finalidade buscar soluções para a preservação das águas.
Também foram palestrantes: Maurício Fernandes, Coordenador da área Técnica de Manejo de Bacias da Empresa de Assistência Técnica e Extensão Rural de Minas Gerais (Emater-MG), Fernando Brito, chefe de gabinete da sede regional da Companhia de Desenvolvimento dos Vales do São Francisco e Parnaíba (Codevasf); e Rutílio Cavalcanti, prefeito de Urucuia.
Durante a audiência pública, a professora Maria das Dores Veloso fez uma apresentação sobre o Projeto Vereda Viva, desenvolvido nos municípios de Januária e Bonito de Minas (na região da Área de Preservação Ambiental (APA) Pandeiros), com ações também na região da Serra do Cabral (municípios de Buenopolis e Joaquim Felício (Norte de Minas)).
A pesquisadora listou as formas de degradação do ecossistema, como o desmatamento, o pisoteio do gado e as queimadas. Alertou que a abertura descontrolada de poços tubulares representa uma séria ameaça ambiental, reduzindo o nível do lençol freático e eliminando as nascentes. “Fizemos levantamentos em 17 veredas. Há abertura de poços tubulares nas áreas próximas de todas as veredas e no cerrado inteiro”, acrescentou.
Conforme os estudos apresentados, das 17 veredas monitoradas pela Unimontes, somente três estão integralmente preservadas, com o solo úmido. As outras 14 estão com o solo seco, “levantando poeira”, degradadas pelo pisoteio do gado, revelou.
A professora da Unimontes alertou para os impactos ambientais provocados pela redução da área inundável do chamado “pantanal mineiro”, situado na região de Pandeiros (Norte de Minas) e considerado o berçário de peixes do Rio São Francisco. Chamou a atenção ainda para os danos ambientais resultantes da redução de água no conjunto de sítios arqueológicos do Vale do Peruaçu, entre os municípios de Januária e Itacarambi.
PROJETO VEREDA VIVA
A pesquisadora da Unimontes fez um relato sobre as ações de recuperação e proteção ambiental que são realizadas no âmbito do Projeto Vereda Viva. Iniciativa que tem a participação de acadêmicos em trabalho de campo nas veredas.
Há quatro anos, são feitos o cultivo e o plantio de mudas – inclusive de buritis, em parceria com os pequenos produtores. Além disso, realizamos trabalho de conscientização ambiental na região de Pandeiros. “As comunidades são envolvidas nas atividades com ações de capacitação na área de educação ambiental e realização de seminários e palestras nas escolas. Entendemos que é preciso envolver adultos e crianças”. Salientou a pesquisadora.
A professora informou ainda a necessidade da liberação de mais recursos públicos para serem aplicados em estudos e ações que garantam a proteção e recuperação efetiva das nascentes e que possam contribuir para o aumento da oferta de água no cerrado.
O deputado José Silva solicitou à professora Maria das Dores Veloso a elaboração de uma proposta pela Unimontes que servirá para a busca de recursos do Governo Federal para investimentos em novas pesquisas e medidas em prol da proteção das veredas e nascentes de córregos e rios do cerrado brasileiro e dos mananciais que formam a Bacia do Rio São Francisco.
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