Os estudos desenvolvidos pela Universidade Estadual de Montes Claros (Unimontes) sobre o desmatamento de áreas de Mata Seca e de Cerrado no Norte de Minas, por intermédio do Programa de Pós-Graduação em Biodiversidade e Uso dos Recursos Naturais (BURN) e do grupo de pesquisa sobre Mata Secas, resultaram em artigos publicados em periódicos internacionais. Os levantamentos são realizados no âmbito da Rede Internacional de Pesquisa Colaborativa Tropy-Dry (Florestas Tropicais Secas).

O desmatamento nas Matas Secas foi abordado no artigo “Políticas de Uso da Terra e Desmatamento em Florestas Tropicais Brasileiras”, publicado no periódico Environmental Research Letters (Cartas de Pesquisa Ambiental), da Inglaterra. O trabalho foi resultado da dissertação de mestrado da aluna Mariana Dupin, do mestrado em Biodiversidade e Uso dos Recursos Naturais.

Antes, outro artigo de autoria do professor Mário Marcos Espírito Santo, da coordenação do grupo de pesquisas sobre as Matas Secas, foi publicado no periódico “Transações Filosóficas”, também de Londres. O trabalho teve como título “Políticas de uso da terra e desmatamento em florestas tropicais brasileiras entre 2000 e 2015”.

PERFIS – “As publicações são importantes por mostrar as causas biofísicas – influência do relevo, do clima, entre outros – e socioeconômicas (influência da produção agropecuária, da densidade populacional, entre outras) do desmatamento no norte de Minas Gerais”, afirma o professor Mário Marcos Espírito Santo.

LINHA DE TEMPO

“A intensidade do desmatamento também foi quantificada entre 2000 e 2015, ou seja, em um período bem recente, e foi discutida no contexto das políticas ambientais (por exemplo, a Lei da Mata Atlântica, que protege as Matas Secas) e de desenvolvimento aplicadas no norte de Minas Gerais nas últimas décadas”, complementa o pesquisador.

Outro diferencial dos estudos, ainda conforme Mário Marcos, foi a quantificação da regeneração natural do Cerrado e da Mata Seca, o que geralmente não é feito em estudos sobre mudanças na cobertura vegetal. Em convite, ele também já apresentou trabalho sobre o mesmo tema em congresso realizado pela Associação para Biologia Tropical em Conservação, na cidade de Montpellier, na França.

Mário Marcos lembra que as produções científicas que ganharam divulgação internacional são resultados de estudo multidisciplinar, feito no âmbito da rede internacional de pesquisas Tropi-Dry, com financiamento do Instituto Interamericano de Pesquisas em Mudanças Globais. O grupo conta com pesquisadores de quatro departamentos da Unimontes: Biologia Geral, Geografia, Ciências Sociais e de Saúde Mental e Coletiva.

SOBRE O DESMATAMENTO

Pesquisador Mário MarcosO pesquisador disse que uma característica importante da produção dos dois artigos publicados nos periódicos estrangeiros foi o levantamento de dados, a partir do geoprocessamento, de cada um dos 80 municípios da região norte-mineira, com informações mais precisas sobre o desmatamento.

“Através de imagens de satélite, obtivemos uma série de parâmetros para os municípios, como declividade média, tipo de clima, densidade de rios e de rodovias, área protegida por unidades de conservação, entre outras”, relata.

Ele salienta que, de uma maneira geral, os resultados do grau de desmatamento são impressionantes. “Tanto o Cerrado como a Mata Seca perderam 1,2% de sua cobertura nesta linha de tempo de 15 anos – entre 2000 e 2015 –, que é maior do que a observada nesses tipos de vegetação em outras partes do Brasil. De uma maneira geral, o Cerrado perdeu uma área de 23.446 km², um desastre que só não foi pior porque 13.926 km² de áreas abandonadas ou protegidas por unidades de conservação se regeneram naturalmente, diminuindo a perda líquida de cobertura vegetal nesse bioma para 9.520 km² em 15 anos no Norte de Minas Gerais”, registra o professor da Unimontes.

Mário Marcos destaca que situação semelhante foi verificada com as Matas Secas, cuja extensão é bem menor do que o Cerrado no Norte de Minas. “No total, foram desmatados 9.825 km2 de áreas de Matas Secas, parcialmente compensados com a regeneração natural de 6.523 km², resultando em uma perda líquida de 3.302 km² (18% da área total). Esses números são mais assustadores quando se considera que as Matas Secas norte-mineiras estão supostamente protegidas pela Lei da Mata Atlântica (Lei Federal 11.428) desde 2006 (e anteriormente pelo Decreto 750, de 1993). As áreas mais sensíveis ao desmatamento foram as áreas de relevo mais plano e municípios com maior rebanho bovino perderam maior cobertura vegetal. Assim, a pecuária continua sendo o maior vetor de desmatamento no norte de Minas Gerais”, enfatiza.

O pesquisador lembra que outro resultado importante dos estudos é a constatação de que municípios com maior desmatamento não obtiveram melhores indicadores sociais e econômicos. “Isso contraria os clamores dos setores rurais da região, que argumentam que o desmatamento é necessário para a expansão da agropecuária, crescimento econômico e geração de emprego e renda. Na verdade, municípios que sofreram maior desmatamento não apresentaram maior crescimento de PIB, melhora no IDH ou no Índice de Desigualdade. Finalmente, os estudos concluem que as políticas macroeconômicas que estimulam o modelo de desenvolvimento hegemônico no Norte de MG devem ser revistas. Essas políticas estão enraizadas no desmatamento e na produção e exportação de commodities agrícolas, causando impactos ambientais de longo prazo sem evidências de ganhos de bem-estar”, avalia Mário Marcos do Espírito Santo.

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