Primeiro lugar geral no 1º Processo Seletivo/2014 da Universidade Estadual de Montes Claros, Weliton Durães foi aprovado para o curso de Medicina. Ele conquistou 214,29 pontos em 230 possíveis. Inscrito na categoria de egresso de escola pública – carente –, concluiu o ensino médio na Escola Estadual Coronel Idalino Ribeiro, em Salinas, onde nasceu. Aos 26 anos, enfatiza que o ingresso na Unimontes é a realização de um sonho de vida. “Estou entrando numa instituição que é referência na região e que permite que pessoas como eu tenham acesso ao ensino superior”, disse Weliton. E completou: “por isso, agradeço à minha família e a Deus, em especial, que é a fonte principal de meu conhecimento”.
O “campeão” do vestibular da Unimontes fez questão de contar sua história de vida até a conquista da vaga. Considera o primeiro lugar “um exagero”, mas, ao mesmo tempo, o vê como um troféu diante de inúmeras adversidades. De família humilde, Weliton teve que trabalhar aos sete anos para ajudar em casa. “Vendia salgados e sucos nas ruas, mas nunca abri mão dos estudos. Depois entrei para a Guarda Mirim [projeto social no qual jovens carentes se tornam aprendiz em bancos, escritórios e empresas]”, relatou.
Doença do pai
Ele revela que o interesse pela Medicina foi despertado depois de traumas pessoais: a doença degenerativa do avô e uma crise de convulsão que o seu pai teve em casa. “Já era para eu ter saído de casa, mas me atrasei e foi justamente neste tempo a mais que fiquei por lá que o meu pai passou mal. Eu que o socorri com massagem cardíaca e respiração boca a boca. Conseguir salvar a vida dele”. Nos exames a seguir, seu pai teve detectada uma disritmia cerebral, mas sem sequelas.
O mal súbito do pai o fez adiar um sonho: de se mudar para Montes Claros e tentar o ingresso num curso superior. Somente um ano depois se mudou para tentar um vestibular. Não conseguiu a vaga em Medicina, mas foi aprovado em Odontologia, na própria Unimontes. Weliton chegou a vender doces na Universidade para custear os gastos extras. Neste intervalo, se casou.
Um ano e meio depois de cursar as aulas de Odontologia, apesar com os atropelos – como ele mesmo diz, Weliton desistiu do curso. “Eu queria mesmo era Medicina; um objetivo de vida. Durante um ano acordava às seis da manhã e dormia às onze da noite, todos os dias. Era apenas os livros e eu, em casa. Só minha esposa trabalhava e tive que contar com a ajuda da família para comer, me vestir, calçar; praticamente tudo. Minha esposa só conseguiu trabalho há seis meses”.
Segundo ele “valeu a pena. Quero não ser mais um acadêmico de Medicina, quero fazer diferença”. Nos planos, se tornar um cirurgião e pediatra. “Ainda não tenho filhos, mas gosto muito de crianças. A pediatria é uma área carente de profissionais. Mais um motivo para ter um compromisso com a causa”.
“Não desisti”
A candidata Izabel Cristina Rodrigues fez questão de se dirigir ao campus-sede para conferir o resultado final do vestibular. Foi aprovada para o curso de Serviço Social – categoria egressa de escola pública carente. Emocionou-se muito e precisou ser amparada por pessoas que sequer conhecia. Será a primeira pessoa da família, entre irmãos, primos, tios e cunhados, a cursar o ensino superior.
“Que luz, que bênção, meu Deus. Tive que conciliar os estudos com o trabalho, os cuidados com a casa e com a criação de minhas duas filhas. Só Deus sabe o que eu passei para conseguir isso”, disse a mulher de 33 anos, que trabalha como balconista numa padaria em Montes Claros.
Segundo Izabel, desde 2007 ela tentava ingressar na Unimontes. Fez provas para Geografia, Pedagogia e Serviço Social, mas o nervosismo e a ansiedade sempre atrapalhavam no momento decisivo. “Muita gente disse para eu desistir e seguir minha vida sem estudos. Agora estou aqui: universitária”, vibrou.