Universidade Estadual de Montes Claros – Unimontes

Unimontes participa de pesquisa da Unesco que utiliza biorreatores para descontaminar resíduos da metalurgia

– Microorganismo retira sobras dos metais, que podem ser reaproveitadas na indústria; a sobra torna-se adubo ou material para a construção civil –

O professor Luiz Henrique Arimura Figueiredo, da Universidade Estadual de Montes Claros, é um dos autores do estudo internacional “Leaching and Recovery of Metals”, que consiste na utilização de biorreatores nos resíduos da indústria metalúrgica. Os metais pesados presentes nesses resíduos são precipitados por microorganismos, normalmente presente no próprio dejeto. O que é removido de metal é reaproveitado na própria indústria e o que era resíduo, agora sem estes metais pesados, pode ser usado como adubo ou corretivo de solos para a agricultura e/ou, ainda, como matéria-prima para cerâmicas e acabamento na Engenharia Civil, dentre outras necessidades.

A pesquisa que aplica este método foi coordenada pela Universidade Paris-Est (França), em parceria com a Unesco, Unimontes e Universidade Federal de Minas Gerais, com financiamento do Instituto de Educação da Água (IHE), do Fundo das Nações Unidas para Educação, Ciência e Cultura (Unesco).

Uma parte do resultado está publicada no capítulo 6 do livro “Sustainable Heavy Metal Remediation” – Volume Two – Cases Studies (em tradução livre: “Reparo Sustentável dos Metais Pesados” – volume dois – Estudos de Casos), da Editora Springer (Alemanha), uma das mais conceituadas no meio científico no mundo.

Além do professor Luiz Henrique Arimura Figueiredo, o trabalho envolveu o pesquisador indiano Manivannan Sethurajan, na época estudante de doutorado no Laboratório de Geomateriais e Meio Ambiente da Universidade de Paris-Est; o pesquisador holandês Piet Lens (PhD), do Instituto de Educação da Água (IHE/Unesco); e o professor pós-doutor Adolf Heinrich Horn, alemão radicado no Brasil que atua como docente no Instituto de Geociências da UFMG.

A parte operacional da pesquisa começou em 2014, com pesquisas de campo até o final de 2016, em uma área piloto utilizada como depósito de resíduo para a indústria metalúrgica, no interior de Minas Gerais. As primeiras publicações aconteceram no segundo semestre do ano passado.

COMO É

Em resumo, explica o professor Luiz Henrique, o estudo apresenta métodos eficazes para retirar a contaminação de metais pesados como chumbo, cádium, cromo, cobre e zinco dos resíduos do minério utilizado na indústria. Os biorreatores são ambientes que estimulam o desenvolvimento dos microrganismos. “São microorganismos naturais, sem qualquer modificação genética”, explica.

O pesquisador destaca como os metais precipitados pelos microorganismos podem ser reaproveitados pela própria indústria metalúrgica

O pesquisador da Unimontes completa: “na reação iniciada a partir da aplicação dos microorganismos, os metais pesados são retirados destes rejeitos industriais e isolados para reaproveitamento. O que sobra, devidamente limpo dos metais pesados, serve como matéria-prima para a indústria de fertilizantes e da construção civil”. A divulgação do microorganismo, assim como a área de realização da pesquisa, obedece aos termos de sigilo do estudo.

Os autores enxergam como “revolucionário” este processo, tendo em vista a possibilidade de reaproveitamento em massa dos resíduos da indústria metalúrgica e mineral, especialmente em Minas Gerais, que detém 66% da produção do minério de ferro no Brasil. Por lei, as indústrias metalúrgicas são obrigadas a implantar áreas fechadas para recebimento destes resíduos (uma espécie de depósitos), distante de mananciais e de áreas de reserva.

Outra vertente que o estudo vislumbra está na correção de solos ácidos (naturalmente), como os do Cerrado Brasileiro ou de solos degradados pela ação antrópica.

O professor Luiz Henrique Arimura Figueiredo é engenheiro agrônomo, mestre e doutor em Solos e Nutrições de Plantas e, atualmente, responde pela coordenação do Centro de Recuperação de Áreas Degradadas da Mata Seca (CRAD-Mata Seca), vinculado ao campus Janaúba da Universidade Estadual de Montes Claros.