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Tese de doutorado da Unimontes avalia a relação de idosos com novas tecnologias

By DTI

November 08, 2013

Como as pessoas idosas convivem com as inovações tecnológicas? Esta questão foi abordada em tese da professora Maria Cleonice Mendes de Souza, do departamento de Educação da Universidade Estadual de Montes Claros (Unimontes). Ela concluiu doutorado na Faculdade de Educação da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), na linha “Psicologia, Psicanálise e Educação” e defendeu a tese “Hiper-modernidade no cotidiano de pessoas idosas: a instauração do futuro mutante no imaginário de órfãos do passado”.

O trabalho foi escolhido para apresentação no V Encontro de Pesquisa em Educação da Faculdade de Educação da UFMG, dentro da atividade “Vale a Pena Ver de Novo”, que reuniu as dissertações de mestrado e teses de doutorado da instituição consideradas de destaque de 2013. O evento foi realizado em outubro último.

A professora Maria Cleonice de Souza explica que o estudo teve como objetivo conhecer e entender como as pessoas com mais de 70 anos estão convivendo com a hiper-modernidade, ou seja, com aspectos da atualidade como a tecnologia, o consumismo, a transformação de valores arraigados em seus costumes há mais de meio século. Foi observado como as mudanças afetam o dia a dia deles.

Cidade e zona rural

Para desenvolver o estudo, a professora da Unimontes fez entrevistas com 12 pessoas idosas (seis homens e seis mulheres) na faixa de 72 a 96 anos e moradoras de Montes Claros (4), Diamantina (4) e Itamirim (4), distrito de Espinosa, na divisa de Minas Gerais com a Bahia. “O propósito foi compreender como pessoas de localidades diferentes veem e convivem com a modernidade”, revela Maria Cleonice, que trabalhou na realização da tese durante três anos.

“No doutorado, optei por novamente trabalhar com as pessoas idosas. Quis saber como os idosos lidam com as novas tecnologias”, descreve a autora. Ela lembra que, por intermédio das entrevistas e narrativas, verificou como era a vida dos idosos durante a infância e a adolescência e quais as relações deles com as mudanças do mundo moderno.

Convivência com o computador

A autora da tese disse que constatou que os idosos são pessoas que ainda não se acostumaram com as novas tecnologias. “As pessoas mais velhas gostam das coisas modernas, mas criticam e não se adaptam aos relacionamentos virtuais e ao consumismo. Além disso, não conseguem se adaptar às novas tecnologias como computadores, caixas eletrônicos, celulares e com a internet”, informa a doutora da Unimontes.

Segundo ela, “os idosos consideram que o mundo está melhor em alguns aspectos, mas têm muita saudade das coisas do passado e acham que antigamente, a vida era melhor e mais tranqüila, com maior romantismo”.

A professora da Unimontes destaca algumas conclusões do estudo. “Os idosos do interior e da zona rural elogiam mais a modernidade do que os da cidade grande, pois, conhecem somente os aspectos positivos da modernidade, como água encanada e luz elétrica. Por outro lado, desconhecem os aspectos negativos como a violência e os assaltos”.

Os entrevistados elogiam a modernidade em termos de facilidades domésticas, como o surgimento de máquina de lavar roupa, geladeira, televisão e antena parabólica. Por outro lado, nenhum deles demonstrou paixão pelo computador. “Quando apareceu o computador, eles já tinham um modo de vida enraizado e não conseguiram mudar esse estilo de vida”, avalia Maria Cleonice.

Contemporâneo de JK

Ela recorda que um dos entrevistados e morador de Diamantina tem hoje 88 anos e foi contemporâneo e amigo do ex-presidente Juscelino Kubitscheck. “Foi um dos depoimentos mais emocionantes. Trata-se de uma pessoa que mantém vínculo com o passado e que não gosta das músicas atuais e da modernidade, que não usa as novas tecnologias”.

No estudo, a professora Maria Cleonice também analisou o pensamento dos idosos sobre as mudanças de comportamento e as relações na época moderna. “Todos os entrevistados criticam os relacionamentos atuais, principalmente, entre pais e filhos. Eles acham que aconteceu uma perda dos valores”, informa a doutora em educação.