Universidade Estadual de Montes Claros – Unimontes

Pronunciamento do Reitor da Unimontes, Professor Paulo César Gonçalves de Almeida

“Há momentos em que o tempo se detém de repente para dar lugar à eternidade” (Dostoievski)

Autoridades e Convidados.
Amigos e Amigas.

A memória não é ilusão ótica que desaparece como bruma opaca ao amanhecer.

A memória não é o orvalho que cai na madrugada e fenece ao raiar do dia posterior.

A memória deve ser a raiz profunda que sustenta o presente e joga luzes ao futuro, order informando como foi a construção do passado, com suas dificuldades, recursos e benefícios.

Diante do casarão da antiga Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras, o Casarão da Fafil, como o imaginário regional batizou este prédio que guarda a nossa memória histórica, pode ser resgatado o tecido em que se formou o norte-mineiro.

Surge a visão do jeito desbravador do coronel José Antônio Versiani, que emoldurou, em 1889, a atual Rua Coronel Celestino, construindo este casarão, no largo da Praça da Matriz, hoje Doutor Chaves, para servir de residência e comércio.

Fica viva a lembrança de quando o sobrado serviu de sede para Escola Normal Oficial, passando no século 20 a abrigar o Grupo Escolar Gonçalves Chaves. Já em 1915, o prédio passou das mãos da família Versiani para o Estado de Minas Gerais, tornando-se templo de ensino com a Escola Normal.

Na década de 1920 abrigou o Departamento de Estradas e Rodagens. Já na década de 1960, com a nascente educação superior em Montes Claros, o prédio foi cedido para a Fundação Norte-Mineira de Ensino Superior, a antiga FUNM, que deu lugar à Unimontes.

Como então separar o passado deste presente ou não pensar no legado contínuo que ele envia na direção do futuro? Impossível.

Mas para que a relação passado, presente e futuro seja mantida é preciso sensibilidade, amor às tradições, compreender a alma mineira que é revelada no seu casario colonial, nas suas igrejas centenárias, no fogão a lenha a crepitar o arroz com pequi, o frango caipira e o café a ser adoçado com rapadura extraída da cana-de-açúcar, moenda de ferro, tacho a borbulhar o mel.

Sensibilidade que o Governo de Minas teve ao aceitar o pleito da Universidade Estadual de Montes Claros para que o Casarão da Fafil pudesse ser reformado, resgatando história e memória, retirando da nossa retina a fotografia do abandono e destruição, que muitos teriam acreditado como destino certo da antiga casa erigida pelo coronel Antônio Versiani.

A decisão política de sempre valorizar o homem pesou forte e hoje é possível entregar ao nosso presente e ao futuro, o passado renovado, cores altivas, estrutura robusta e imponente, 50 janelas e 43 portas dominando 811 metros quadrados de construção.

Imperou a sensibilidade de agentes do progresso, de pessoas cuja competência maior é a de manter a luta para a melhoria de qualidade de vida de todos os mineiros, incluindo a preservação de nossa história.

Guimarães Rosa repetia sempre: “não gosto do transitório, do provisório. Gosto do Eterno”.

Existem compreensões que fogem da visão. Ficam guardadas no âmago, ao lado da alma. Não se pode separar a construção do ensino superior no Norte de Minas dos resultados transformadores que essa educação provocou no devir do norte-mineiro, avançando para os Vales do Jequitinhonha e Mucuri, além do Noroeste de Minas.

Mas o nascedouro de toda essa engrenagem de desenvolvimento está aqui.

Neste local, quando na década de 1960, embalado por sonhadores e idealistas, nasceu a educação superior de toda essa região. Reais hoje estão os sonhos acalentados ontem por jovens estudantes, muitos deles aqui neste momento. Estudaram na Fafil, na Fadir. São personagens do passado e testemunhas do presente.
O Casarão da Fafil abrigará o Museu Regional, garantia de que a história não se tornará cinza. Tanto que vai reunir um grande acervo documental, fotográfico e material sobre a história do Norte de Minas, que já está sendo catalogado.

Haverá um acervo permanente, a partir de materiais da própria Universidade e de doações formalizadas pela população, além do acervo temporário, já que os outros municípios do Norte de Minas participarão de exposições itinerantes no local.

O objetivo é que o museu sirva também como uma referência para pesquisas sobre o processo de ocupação e desenvolvimento dos municípios norte-mineiros, abrangendo várias áreas do conhecimento.

“Montes Claros de Minas é museu a céu aberto da história social do Brasil, agasalhando em seu espaço, as duas faces antinômicas e hegemônicas de nossa formação social, relíquia do Brasil colônia e dos caminhos de povoamento”, já disse o antropólogo e professor da Universidade de Brasília, Luiz Tarlei de Aragão.

O Museu, portanto, representa mais um presente para a nossa Montes Claros e toda esta região.

O Casarão também comportará, por tempo determinado, o Centro Integrado de Convivência com a Seca, cujo papel será o de projetar caminhos para que a dor do sertanejo, diante das longas estiagens, seja minorada, abrindo perspectivas para que o homem do sertão continue forte, mas com qualidade de vida e dignidade.

O Casarão da Fafil, portanto, esteio de aroeira, mais uma vez construirá história em favor da comunidade. É memória resgatada, mas acima de tudo uma árvore de raiz profunda que continua a frutificar bons frutos.

Senhoras e Senhores, Amigos e Amigas:
O que celebramos hoje transcende mesmo este momento. Mais que a cidade de Montes Claros ou o povo mineiro, acima de todos nós, quem comemora mesmo é a cultura deste país.

A entrega deste prédio, novamente recuperado para servir de palco à sua vocação natural, é mais uma prova de que é preciso resistir e lutar, sempre, cotidianamente, em defesa do patrimônio histórico e cultural que forja a nossa identidade de mineiros.

Com suas portas abertas ao público, é um sinal de alento a toda a comunidade cultural, daqui e de todo o país.

Não é possível falar sem professar a emoção por esse momento histórico, sob todos os aspectos. Estamos emocionados em participar da transformação de um sonho em realidade. Realidade essa aguardada pela comunidade há mais de 10 anos.

Ao fazer um resgate das gestões desenvolvidas pela Unimontes para conseguir recursos, prestamos homenagem a todos os que acreditaram na cultura como o núcleo gerador de idéias e princípios que conduzem, iluminam e transformam uma sociedade:

– Ao PAI CELESTIAL glória e louvor, porque além das bênçãos, ELE nos fez manter acesas a fé a esperança na realização deste sonho.

– Ao Governador Aécio Neves, ao Vice-Governador, Professor Antonio Anastasia, à presidente do Servas, Andréa Neves da Cunha, aos Secretários Renata Vilhena (de Planejamento e Gestão), Alberto Portugal (de Ciência, Tecnologia e Ensino Superior) e Paulo Brant (da Cultura), renovamos nosso agradecimento pelo apoio dispensado, fundamental na viabilização desse projeto.

– À memória do saudoso empresário Walduck Wanderley, que contribuiu com a conservação deste patrimônio histórico;

– ao nosso Querido Amigo e Ex-Reitor desta Universidade, Professor José Geraldo de Freitas Drumond, o reconhecimento indispensável, pois foi quem liderou os primeiros passos que viabilizaram a concretização deste sonho;

– aos muitos amigos de fé, ou amigos de sonhos alcançados nessa caminhada, e sem desmerecer quem quer que seja, os homenagearíamos todos, por meio do jornalista Carlos Lindenberg e de Elias Siufi, que presidiu comissão especial para captar recursos para a restauração;

– à CEMIG – por meio do Programa CEMIG CULTURAL – e ao INSTITUTO OI FUTURO (TELEMAR NORTE LESTE), nosso reconhecimento, de modo muito especial, não só porque atenderam o apelo do Governo de Minas, mas também porque acreditaram no projeto e contribuíram de forma decisiva para a sua concretização;

– a todos os Companheiros e Companheiras da Administração da Universidade e da FADENOR, que têm sido incansáveis e perseverantes nesta trajetória;

– aos cidadãos e às cidadãs destes Montes Claros e da região, e aos professores, acadêmicos e servidores técnico-administrativos da Unimontes, nosso carinho pela solidariedade permanente, tão indispensável para os avanços e conquistas, como a que estamos hoje celebrando.

Ao lado de tantos amigos e companheiros de jornada, compreendemos o quanto a cultura e a arte exercem o grande fascínio de transformar o homem por dentro, a partir da reflexão que vem do nosso encontro com a gente mesmo.

Cultura é isso. É vida. É possibilidade de recontar o mundo, de recriar a vida. Se não há cultura, não há arte, não há esperança. Por isso, esse espaço cultural sempre foi e deve continuar a ser defendido com todas as nossas forças.

Daí a nossa crença: o ressurgir do Casarão também nos torna mais vivos, mais inteiros, mais íntegros. É um belo exemplo de capacidade realizadora do povo dessas Gerais de Minas.

O sonho agora é realidade: o nosso Querido Casarão da Fafil está salvo e abre suas portas para que aqui volte a reinar a emoção da arte, do desenvolvimento, da cultura.

Mais uma vez, fica provado que a vitória mais feliz é esta: a vitória solidária! E somente a emoção é única: de toda uma gente que se reconcilia com sua própria história.

Que DEUS continue nos iluminando e abençoando!
MUITO OBRIGADO!