Universidade Estadual de Montes Claros – Unimontes

Projeto apresenta exposição que retrata superação e união para enfrentar o câncer

O desfile não foi para lançar nenhuma coleção de roupas, bolsas ou sapatos, mas para exibir sorriso, superação, esbanjar autoestima e, principalmente, despertar a conscientização da sociedade para o câncer de mama. O tapete vermelho foi invadido por mulheres que estão em tratamento ou controlam o câncer de mama e participam do projeto “Vida”, um programa permanente de extensão da Unimontes, que abriga mulheres que, após o diagnóstico, resolveram participar de atividades físicas, culturais, emocionais, sociais e religiosas como parte do tratamento.

O evento, realizado na noite dessa quarta-feira (19/10, marcou, também, o lançamento da quarta edição da exposição “Vida Rosa”, uma série de fotografias das mulheres que integram o projeto. A novidade é que neste ano a exposição é virtual, mantendo a tradição de percorrer vários pontos de Montes Claros como um instrumento de conscientização da sociedade. “Essa exposição revela a autoestima dessas mulheres, que, mesmo diante de uma doença, trabalham para manter a qualidade de vida, a dignidade e viver de forma intensa”, explica a coordenadora do projeto, professora Claudiana Donato Bauman. “Além de servir de conscientização para outras mulheres”, completa.

Essas ações fazem parte da campanha Outubro Rosa, desenvolvida para conscientizar as mulheres da necessidade de cuidar da saúde, principalmente na busca de um possível diagnóstico precoce, fundamental para ampliar o sucesso no tratamento do câncer de mama. A Unimontes lançou a campanha Outubro Rosa, em parceria com a Associação Presente de Apoio ao Paciente com Câncer – Padre Tiãozinho, no dia 4 de outubro, com vasta programação.

Atualmente, o Projeto Vida atende 45 mulheres, com diversas atividades e o lançamento da exposição aconteceu no Ibituruna Center Shopping, tendo como parceiros o fotógrafo Gui Soares, o colunista social e promoter Giu Martins e o fotógrafo e videomaker Hudson Brazil Santos, além do salão de beleza Trancosos Beauté e a Associação Presente.

ACASO E SUPERAÇÃO – A ex-trabalhadora rural Raimunda Soares dos Reis, de 62 anos, hoje aposentada, e a cabeleireira Hozana Soares Pereira, de 43 anos, têm muitas aspectos e ensinamentos em comum, além da descoberta do câncer de mama. Ambas descobriram o nódulo nos seios por força do acaso. Raimunda conta que teve um período de profunda angústia, em 2011, quando teve um primo assassinato dentro de um ônibus. “Foi um período muito difícil, várias pessoas da família entraram em depressão e durante uma crise de angústia coloquei a mão no peito para tentar acalmar meu coração, de tanta dor, quando percebi que tinha um caroço no seio”, explica a mãe de quatro filhos, que se mudou da cidade de São Francisco para Montes Claros para fazer o tratamento. Hoje o câncer atinge também a perna.

Já Hozana Soares, em 2012, depois do banho, descobriu o nódulo também por acaso. “Não tinha o hábito de fazer o toque preventivo nos seios e um dia ao sair do banheiro, a toalha que estava enrolada no meu corpo ameaçou cair, quando a pressionei com a mão contra o seio e percebei que existia um nódulo já grande”, explica a mãe de dois filhos. Seis meses depois, Hozana Soares estava se submetendo a uma cirurgia para retirada da mama. Ela venceu a doença, mas confessa que tem medo que o câncer reincida. A cabeleireira ainda se emociona ao lembrar-se do período da descoberta, mas afirma que mudou radicalmente a alimentação e a forma de perceber a vida. “Hoje, aprendi a valorizar o que tenho por dentro e não por fora; mudei minha visão sobre vaidade”, explica. Ela ainda faz fisioterapia para aprimorar os movimentos do braço.

Dona Raimunda, como é conhecida no Projeto Vida, conta que sua trajetória foi mais complicada. Depois de se mudar para Montes Claros percebeu o distanciamento de parentes e de amigos. Única a trabalhar na casa, precisou confiar na fé para superar inúmeras dificuldades, como se alimentar e até a mudança comportamental do marido. “Me sentia sozinha”, conta a ex-trabalhadora rural ao sorrir e lembrar-se do período em que foi amparada pelo Associação Presente e pelo Projeto Vida. “Essa sim é a minha família agora”, resume. Relata que foi acolhida por Lizete Fernandes de Moura, que conheceu quando começou participar do projeto Vida, com quem mora até hoje. Para ela, hoje se considera uma pessoa rica pelos amigos que conquistou no projeto e ganhou outro tipo de fortalecimento: “hoje me alimento também do carinho que recebo deles”.

A cabeleireira e a ex-trabalhadora rural revelaram ainda que a doença mostrou que são muito mais fortes do que pensaram. “O apoio dessas pessoas dos projetos alivia o caminho e o torna a caminhada bem mais leve”, afirma Hozana Soares Pereira, ao completar que hoje percebe que “para viver nem precisa de muito.” E a importância de participar desses projetos pode ser resumida na frase da Dona Raimunda. “Um dia antes da sessão de fotos da exposição eu tinha feito uma sessão de quimioterapia e não estava muito bem, mas fui assim mesmo, porque se precisar vou até rolando, mas não falto”, disse com um sorriso largo no rosto.