Universidade Estadual de Montes Claros – Unimontes

Pesquisa identifica em Montes Claros um dos predadores mais vorazes da larva do Aedes

 

Uma solução promissora de combate à reprodução do mosquito Aedes aegypti em Montes Claros e região, transmissor da dengue, chikungunya, zika e febre amarela, pode estar na própria natureza. É o que revela um estudo desenvolvido pelo curso de graduação em Ciências Biológicas e pelo mestrado em Biodiversidade da Unimontes, que identificou na área urbana do município um dos mais vorazes predadores biológicos da larva do Aedes.

A pesquisa faz parte do Trabalho de Conclusão de Curso (TCC) da acadêmica Júlia Gomes Cardoso, do 6º período do bacharelado em Biologia, sob orientação do professor doutor Magno Augusto Zaza Borges. Os estudos são desenvolvidos no Laboratório de Ecologia e Controle Biológico de Insetos, a partir da análise do ciclo do mosquito Toxorhynchites theobaldi.

A espécie foi identificada em Montes Claros somente há quatro anos, o que surpreendeu os pesquisadores, já que a incidência é mínima em regiões mais secas, de baixa média pluviométrica, e bem mais comum em ambientes mais úmidos em Minas Gerais, como em áreas de Mata Atlântica, no Leste e na Zona da Mata.

“Já tinha conhecimento de estudos em outras regiões de Minas, como a Zona da Mata, onde o Toxorhynchites theobaldi é registrado em grande incidência por causa da alta umidade. E a impressão era de que o mosquito não resistiria ao período seco tão intenso como é no semiárido, mas até encontrarmos aqui em Montes Claros numa coleta esporádica de outro experimento”, explica o professor Magno Borges.

ARMADILHAS

Armadilhas como esta foram instaladas em vários pontos do Parque do Sapucaia para coleta das larvas

A pesquisa da acadêmica teve início em março de 2018, com a instalação de armadilhas para a coleta de larvas na área do Parque do Sapucaia, na região sudoeste da cidade de Montes Claros. Os recipientes são feitos de bambus, instalados em área de pouca luminosidade e recebem água para simular o ambiente natural de reprodução tanto para o Aedes como para o Toxorhynchites theobaldi.

Segundo o professor Magno Borges e a acadêmica Júlia Gomes, a ideia inicial era de aperfeiçoar os estudos de mecanismo de transmissão da febre amarela, mas o foco mudou diante da presença maciça da larva do Toxorhynchites theobaldi nessas armadilhas instaladas nas partes altas e abaixo da copa das árvores. “Colocamos 60 armadilhas e em 47% delas havia a presença da larva do Toxorhynchites. Com base em estudos anteriores, já sabíamos que este mosquito, em sua fase larval, é um predador de larvas. E essa grande incidência na coleta nos confirmou a impressão que tínhamos algo de grande impacto para o combate natural do mosquito transmissor da dengue em Montes Claros”, acrescentam os pesquisadores.

Júlia Gomes lembra que resolveu se aprofundar nos estudos sobre o Toxorhynchites theobaldi por causa da problemática que existe no Brasil com a dengue e as demais doenças causadas pelo Aedes, o que justifica a necessidade de buscar uma forma visivelmente eficaz de combate ao mosquito, especialmente por ser biológica.

A partir da identificação do predador em campo, as larvas coletadas do Toxorhynchites theobaldi foram levadas para o laboratório instalado no campus-sede da Unimontes e, a partir daí, foi feito o monitoramento do ciclo do mosquito. Visivelmente maior que a larva do Aedes, a larva do Toxorhynchites é extremamente voraz em laboratório e pode depredar mais de trinta larvas de Aedes num único dia.

O ciclo do Toxorhynchites theobaldi para se transformar de larva a adulto pode demorar até dois meses, bem diferente à do Aedes, que é por volta de uma semana em condições ideais. Esse tempo maior da vida larval é outro ponto positivo identificado na pesquisa, justamente para que ele se alimente ainda mais das larvas do Aedes.

Amostras com o Toxorhynchites theobaldi na fase larval; os pontos menores em cada recipiente são as larvas do Aedes

“A fase larval do Toxorhynchites é maior porque ele precisa se alimentar muito para obter proteína o suficiente para produção de ovos, enquanto outros mosquitos, como o Aedes, obtêm essa proteína se alimentando de sangue”, complementa Magno Borges.

Mesmo diante desta característica de voracidade da larva do mosquito, há um desafio maior dos pesquisadores para intensificar o controle biológico e predatório da reprodução do Aedes, seria necessária sua produção em massa em laboratório para soltura em campo, mas o Toxorhynchites theobaldi não se reproduz naturalmente em laboratório. “É preciso induzir a cópula, o que requer métodos específicos”.

Os próximos passos do grupo de pesquisa é estabelecer a criação em condições de laboratório, de forma que o Toxorhynchites theobaldi possa ser visto como uma alternativa de controle sanitário pelas autoridades de saúde, especialmente em cidades como Montes Claros, com registros históricos de grande incidência do Aedes nos períodos chuvosos.

O professor Magno, que também é coordenador do mestrado em Biodiversidade e Uso dos Recursos Naturais da Unimontes (PPG-BURN), destaca que o estudo da interface biodiversidade e saúde é um dos temas mais atuais no diz respeito à medicina preventiva, constituindo um grande campo de trabalho para o profissional biólogo.