Universidade Estadual de Montes Claros – Unimontes

Literatura/Saúde -“Belinha é mais uma fagulha de esperança por um mundo mais humano e inclusivo”

Livro elaborado no âmbito de mestrado da Unimontes aborda a inclusão de crianças portadoras de fissuras lábio palatinas               

A superação do estigma enfrentado por crianças com cicatrizes decorrentes das fissuras lábio palatinas é abordado com uma linguagem simples e didática no livro “Belinha, a menina que aprendeu a sorrir”. A obra foi elaborada no âmbito do Programa de Pós-Graduação (Mestrado) em Ciências da Saúde/Cuidado Primário em Saúde da Universidade Estadual de Montes Claros (Unimontes).

De autoria da cirurgiã-dentista Carla Cristina Gonçalves da Costa, mestranda em Cuidado Primário em Saúde, juntamente com os professores Hercílio Martelli e Daniella Reis Barbosa Martelli, a obra resulta da dissertação de mestrado intitulada “Anomalias dentárias na Síndrome congênita por Zika vírus e produção técnica em fissuras lábio palatinas”. Os professores Hercílio Martelli e a professora Daniela Reis Barbosa Martelli  participaram do trabalho como orientador e co-orientadora, respectivamente.

Carla Cristina Gonçalves da Costa, egressa do curso de Odontologia da Unimontes, destaca que – ao abordar a temática das fissuras lábio palatinas com linguagem acessível, didática e  lúdica, busca gerar educação em saúde e assistência para os diferentes atores sociais. “Surge de duas paixões: a odontologia e o amor à inclusão. Precisamos falar dos mais variados temas com nossas crianças, para que cresçam com o imaginário fértil e aberto às diferenças”, afirma a mestranda de Cuidado em Primário em Saúde da Unimontes.

Cirurgiã-dentista Carla Cristina Gonçalves da Costa, mestranda em Cuidado Primário em Saúde

O QUE CONTA O LIVRO – A história de Belinha, uma menina de sete anos, com fissura lábio palatina, acumula muitas vitórias desde o seu nascimento, mas como milhares de crianças em nosso país, carrega o estigma das cicatrizes de sua condição: ela não se sente segura para sorrir e falar. “Com o apoio dos coleguinhas e de sua professora, Belinha  apresenta esse universo e chama a atenção das pessoas para sua condição, e nos convida a olhar com amor para as diversidades enriquecem e nos tornam únicos e especiais”, enumera a autora.

A mestranda destaca também o papel das famílias no tratamento e na busca da inclusão das crianças portadoras da fissura lábio palatina. “O maior desafio é que seja garantida a atenção especializada, contínua e adequada às crianças. Em Montes Claros, não possuímos nenhum centro de reabilitação. Portanto, as famílias devem se deslocar para o centro de referência mais próximo, no nosso caso, Belo Horizonte, e isso gera um ônus para o indivíduo e sua família”, relata.

A autora também chama atenção para a importância do tratamento das crianças que nascem com o problema congênito, para garantia de uma boa qualidade de vida e para a inclusão. “Quando bem realizado o tratamento e o acompanhamento – que pode durar até os 18 anos, as sequelas serão mínimas. Assim, o processo de inclusão será leve”, observa Carla Cristina.  “O que vemos muitas vezes é a ocorrência de uma cirurgia reparadora no primeiro ano de vida, sem os demais acompanhamentos, especialmente, fonoaudiológicos e odontológicos, gerando todos os estigmas das fissuras, exigindo maior atenção da escola, para que essa assistência seja garantida”, assinala.

A escola tem um atuação importante na conscientização sobre a questão das fissuras lábio palatinas. “Quando pensamos em escrever um livro infantil, imaginamos que é no campo escolar que devemos iniciar a consciência sobre as fissuras, para que todas as barreiras sejam vencidas, e que cada vez mais possamos vencer as diferenças”, pondera Carla Cristina.

Os desafios enfrentados para a inclusão – As fissuras orais geram impacto na saúde e na qualidade de vida das crianças acometidas e seus familiares, somando inúmeros desafios. “O maior deles é a dificuldade de acesso aos serviços públicos para tratamento e acompanhamento, seja pela má distribuição dos centros, tornando a assistência geograficamente fora do alcance de muitos, seja pela falta de informação”, chama a atenção a especialista, que faz um alerta para a necessidade do tratamento correto, com envolvimento de diferentes profissionais.

“As consequências do não tratamento ou de intervenções pontuais não integradas a uma equipe multiprofissional por longo período podem ser danosas pois, além de afetar a estética, a alimentação, fala, voz, audição e sucção, geram danos psicológicos pela estigmatização. Então, o maior desafio é ter acesso a um tratamento integrado e longínquo, com uma equipe multiprofissional integrada”, emenda.

ENTENDA

O que são as fissuras lábio palatinas

As fissuras lábio palatinas são os defeitos  congênitos mais comuns entre as más-formações  que até que afetam a face do ser humano. Pesquisas apontam que a cada 650 crianças nascidas no Brasil, uma terá fissura. O lábio e o palato (céu da boca) são formados ainda nas primeiras semanas de vida intrauterina, e surgem separados. Ao longo dos dias, eles vão se unindo até que se transformem em uma estrutura contínua. Mas, se essa fusão não acontece, ficarão separados em alguma pequena área, ou completamente, dando origem às fissuras que podem estar só NO lábio, no palato ou em ambos – tornando-se lábio palatinas.

Na entrevista ao Portal Unimontes, a mestranda Carla Cristina é veemente ao afirmar que a fissura lábio palatina é um problema de saúde pública, com alta taxa de incidência e prevalência na sociedade, e que “merece ações de educação, visando diminuir os estigmas enfrentados pelos portadores de fissuras orais e seus familiares, assim como necessitam de promoção da conscientização de outros atores envolvidos direta e indiretamente no processo social de um indivíduo fissurado. Precisamos informar a todos, para gerar conhecimento, conscientização e elementos para tomada de decisões frente a um expressivo problema social. Como nos ensinou Rubem Alves, os contos de fada não existem para adormecer as crianças, mas para despertar os adultos. Belinha é mais uma fagulha de esperança por um mundo mais humano e inclusivo”, conclui a autora do livro.