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Fundação Palmares certifica comunidade como área quilombola em São Francisco

By Ascom Unimontes

May 28, 2024

Relatório Etnográfico foi realizado por mestranda da UnimontesA comunidade Florentino José dos Santos, do município de São Francisco, no Norte de Minas, foi reconhecida pela Fundação Cultural Palmares como área remanescente de quilombo. O trabalho do processo de reconhecimento foi realizado por Letícia Imperatriz, discente do Programa de Pós-Graduação Stricto Sensu em Desenvolvimento Social (PPGDS) da Universidade Estadual de Montes Claros (Unimontes).

Letícia Imperatriz, que também integra o Observatório Norte Mineiro de Violência de Gênero – da Unimontes, desenvolveu o relatório etnográfico submetido à análise pela Fundação Cultural Palmares. O trabalho contou com o auxílio do pesquisador Wellington Coimbra, que realizou estudo sobre a referida comunidade em dissertação de mestrado no Programa de Pós-Graduação Stricto Sensu em Educação (PPGE) da Unimontes.

Localizada na área urbana de São Francisco, a comunidade Florentino José dos Santos é integrada por remanescentes quilombolas e adeptos da comunidade tradicional de matriz africana Manzo Diá Luango, totalizando mais de 70 pessoas.

A mestranda Letícia Imperatriz explica que o reconhecimento pela Fundação Cultural Palmares garante diversos benefícios à comunidade quilombola em São Francisco. “O primeiro benefício é a garantia dos direitos identitários, pois a certificação reafirma a identidade dos membros da comunidade. Depois, são assegurados os direitos sociais que foram negados a eles – assim como todo ao povo negro e agora são retomados”, explica Letícia.

O município de São Francisco possui cinco comunidades rurais reconhecidas pela Fundação Cultural Palmares como remanescentes quilombolas: Buriti do Meio, Bom Jardim da Prata, Benedito Costa, Mestre Minervino/Angical e Caraíbas II. Agora, conta com a primeira comunidade quilombola certificada na área urbana: a Florentino José dos Santos.

Fotos: Manzo Diá Luango

“A comunidade quilombola Florentino José dos Santos e comunidade tradicional de matriz africana Manzo diá Luango estabelece modos particulares de ser e entender o mundo, oriundos da africanidade e afro-brasilidade. Tais entendimentos configuram o título de quilombola e de povo tradicional, devido suas relações com a terra, a ancestralidade, a religiosidade, as filosofias e visões de mundo. Assim, dinamizam a luta, a partir de projetos que encruzam as questões e necessidades sociais e a tradicionalidade africana e afro-brasileira”, comenta o pesquisador Wellington Coimbra.

Letícia Imperatriz lembra que já são desenvolvidos diversos projetos na área remanescente quilombola, inscrita nos programas Mesa Brasil e Cozinha Solidária, que realizam atividades para controle da vulnerabilidade alimentar dos seus componentes. Outro projeto implementado na área quilombola é o Folhas Ancestrais, projeto voltado para valorização da vida vegetal e a sustentabilidade, entendendo a necessidade de pensar e repensar a relação humana com o meio ambiente.

História da comunidade

A história da comunidade Florentino José dos Santos inicia com a chegada ancestral da comunidade “Seu” Florentino, oriundo da Bahia. Ele era um ex-escravo, que fugiu da escravização e assentou-se na cidade de São Francisco, onde conheceu Ana Maria Cardoso Vieira. Dona Ana Maria e seu Florentino casaram-se e tiveram filhos, netos, bisnetos e tataranetos.

Entre um processo e outro, a família se instalou no lugar em que a comunidade foi certificada. Durante muito tempo tiveram que conviver com a violência, a perseguição e o preconceito. Ainda assim, a comunidade resistiu mantendo suas tradições africanas e afro-brasileiras. Entre esses descendentes, Janice Cardoso, a responsável por contar a história que possibilitou resgatar a vida e força de “Seu” Florentino para a certificação.

Após uma acomodação, a comunidade se viu em um processo de retomada de sua identidade. Assim Janice Cardoso dos Santos, seu marido José Ferreira Filho (Izominolê) e seus filhos Lázaro Cezane dos Santos Ferreira (Tata Makudiandembu), Lucas Rafael dos Santos Ferreira (Tat’etu Nidenvulo) e Ludmila Cristine dos Santos Ferreira (Kiambianzazi) dinamizaram a cultura.