Fatos revelados, textos bem escritos e a história por trás da história. É o que resumidamente trata a meta-história. Foi sob essa égide, a seis mãos e com a contribuição de personagens que fizeram e fazem história, que o livro “Fragmentos de Memórias: Arquivo da História e Da paixão” foi lançado na noite dessa quarta-feira (5/10), no Museu Regional do Norte de Minas (antigo casarão da Fafil). A obra teve como organizadoras as professoras Rita de Cássia Silva Dionísio Santos, Ivana Ferrante Rebello e Almeida e Carla Roselma Atayde Moraes.
Fonte de inspiração e, sobretudo, berço do conhecimento regional, o Casarão da Fafil, sede do museu, foi onde a história da Universidade Estadual de Montes Claros – e também do ensino superior na região – começou, como bem lembrou o escritor e presidente de honra da Academia Montesclarense de Letras (AML), Wanderlino Arruda, um dos convidados do evento. “E contar os fatos parece fácil; mas não é. Leva tempo, conversa e debruçamento”, como bem lembra a professora doutora do departamento de Comunicação e Letras da Unimontes, Rita de Cássia Silva Dionísio Santos.
O projeto do livro teve início com levantamentos e pesquisas ao final de 2010 e início de 2011, com a proposta de resgatar a memória de professores aposentados do Departamento, uma forma de escrever uma meta-história do cinquentenário da Universidade.
“A história escrita pelos nossos historiadores já está de certa forma registrada nos arquivos da Universidade. Contudo, julgamos importante ouvir outra versão, a partir dos 50 anos da instituição. Ao ouvir os professores já aposentados, suas experiências na graduação, tivemos uma percepção diferenciada de como a história de cada um influenciou no cotidiano da Universidade”, relatou a professora Rita de Cássia.
Uma das principais dificuldades da pesquisa foi em relação à metodologia. Muitos profissionais passaram pelos departamentos da Universidade. “Tínhamos dificuldades em saber quais professores se aposentaram pelo Departamento. Nesse quesito, tivemos importante apoio da Diretoria de Desenvolvimento de Recursos Humanos da Universidade (DDRH)”, afirmou a professora Rita, lembrando que o projeto teve a participação de acadêmicos do curso de Letras, que foram agraciados com bolsas de iniciação à pesquisa da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de Minas Gerais (Fapemig) e da própria Unimontes.
HOMENAGENS
Na noite de lançamento foram prestadas homenagens aos ex-professores que tiveram participação e estão elencados no livro: Baltazar Pereira Pimenta, Cibele Veloso Millo, Geraldo Magalhães Zuba, Ireny Caldeira Souza Oliveira (in memoriam), Maria Argentina Dias Costa, Maria Eneide Dantas dos Santos, Maria Neyde Rodrigues Pimenta, Miriam Carvalho, Nely Rachel Veloso Lauton, Nicomedes de Almeida Teixeira, Ormezinda Barcala Jorge, Yvonne de Oliveira Silveira (in memoriam) e Zulma Lélis Lafetá.
Reitor da Unimontes, o professor João dos Reis Canela em seu discurso citou o professor e médico Alcino Lázaro da Silva. “Estamos fazendo escola na nossa universidade”, desacou. Para ele, o registro histórico produzido pelos docentes da Universidade acalenta e acolhe, ao registrar uma página importante da Unimontes. “Ao longo dos 54 anos, a Unimontes construiu um legado que se estabelece na dimensão da sua complexidade. Sempre teremos fatos novos dentro da nossa universidade, a exemplo do lançamento deste livro. Nossos docentes são a viga-mestra, patrimônio dessa universidade”.
“Em nome dos professores do Centro de Ciências Humanas (CCH), digo que vocês, professoras, são os verdadeiros mestres”, disse emocionada a diretora do CCH, professora Mariléia de Souza. Na mesma linha, o vice-reitor da Unimontes, professor Antonio Alvimar Souza disse perceber a “necessidade de preservar a memória, respeitando as pessoas que fizeram história. Parabenizo as professoras/pesquisadoras, que deixam para a Universidade e para os professores e acadêmicos um legado espiritual, que agora faz parte de nós e de nossa trajetória”.
O lançamento do livro teve ainda a participação especial do professor Élcio Lucas, do Departamento de Comunicação e Letras, que prestou homenagem às autoras executando duas canções do seu repertório.
DEPOIMENTOS SOBRE O LIVRO
PROFESSORA CARLA ROSELMA ATAYDE MORAES (ORGANIZADORA)
“Trata-se de um momento importante porque conseguimos perceber a generosidade das colegas de trabalho. Conseguimos aprender muito. Não é por acaso que o lançamento está sendo feito aqui no Casarão, hoje Museu Regional do Norte de Minas. Muitos desses professores deram aulas aqui no Casarão. E pela nossa própria intimidade com o livro, advindo do diálogo com a palavra do outro, sempre temos a postura de aprender com o outro. Foram belíssimas as obras que estudamos e com as quais aprendemos”.
PROFESSORA IVANA FERRANTE REBELLO E ALMEIDA (ORGANIZADORA)
“Quando entrei no casarão para este evento, meu coração revivia a menina de 20 anos que aqui estudou e aprendeu a ser professora e a amar o que fazia. Nas paredes, escadas e telhados desse casarão reformado, vi também a materialização do trabalho que nós professoras fizemos. Foi um trabalho de buscar por trás. Nosso trabalho é inspirar pessoas, capturar o brilho dos olhares. Tentamos condensar anseios, construindo amor. É mais que um ajuntamento de palavras; é a nossa história. O livro nasce desse conceito de recordar (cordar – coração e re – trazer de volta)”.
PROFESSORA APOSENTADA MIRIAM CARVALHO
“Quando se diz que os fragmentos de memórias abarcam passado e o presente, também se diz que essas mesmas são guardiãs intocáveis do pulsar do tempo. Tudo isso toma conta das minhas e das nossas lembranças, soam como fragmentos de memórias. Em seu auto-retrato, Clarice Lispector afirma que “existe a trajetória. E a trajetória não é apenas um modo de ir. A trajetória somos nós mesmos. Em matéria de viver, nunca se pode chegar antes”. A memória é a estrela maior. Os personagens deste livro, na passagem do tempo, estabelecem um liame afetivo com a realidade incumbida de fazer nascer um novo tempo”.
WANDERLINO ARRUDA – PRESIDENTE DE HONRA DA ACADEMIA MONTES-CLARENSE DE LETRAS
“Na década de 1970, a turma de Letras Português iniciava as aulas no Colégio Imaculada Conceição. Depois migramos para este casarão, onde se instalou o Museu Regional do Norte de Minas. Fui professor da também professora Neli Rachel. Naquela época, éramos 65 alunos. Formamos apenas sete. Uma turma pequena, contudo unida. Hoje, fico muito feliz por mais essa publicação da Unimontes. É importante que cuidemos de garantir apoio à cultura”.
Fragmentos de memórias: arquivo da história e da paixão
Organizadoras: Rita de Cássia Silva Dionísio Santos, Ivana Ferrante Rebello e Almeida
Carla Roselma Atayde Moraes
Editora: Unimontes