Universidade Estadual de Montes Claros – Unimontes

Expresso Chagas: projeto supera os dois mil participantes nos roteiros iniciais pelo Norte de Minas

“Eu tenho a Doença de Chagas desde 2001, mas até hoje ninguém me explicou o que é e não sei direito se o que eu sinto de cansaço, dor e câimbra podem ser por causa dela”. O depoimento é do senhor Alberto Luis da Silva, 65 anos, lavrador, residente da comunidade rural de Santa Bárbara, zona rural do município de Montes Claros. Assim como ele e a filha Wanderléa, de 39 anos, que também tem a patologia (diagnosticada em 2010), outras 2,4 mil tiveram a oportunidade de conhecer mais sobre a doença, sendo atendidas na região do Norte de Minas a partir do “Expresso Chagas 21”.

O projeto multidisciplinar que tem a Universidade Estadual de Montes Claros como parceira, cumpriu um roteiro inicial de nove dias em três cidades norte-mineiras com o envolvimento de mais de 50 pesquisadores em ações preventivas e de divulgação do tratamento da Doença de Chagas. A realidade de pai e filha se confunde com a de milhares de pessoas que vivem na região sudeste do Brasil, onde a incidência da doença é latente, especialmente no Norte de Minas, considerado endêmico.

Alberto Luis da Silva, 65 anos, lavrador , durante visita ao Expresso Chagas, no campus-sede da Unimontes | Foto: Andrey Librelon/Unimontes

No campus-sede da Unimontes, terceira parada do Expresso – que esteve inicialmente em Grão Mogol e Espinosa –, mais de 300 pessoas foram atendidas durante três dias de atividades – entre quarta (24/7) e esta sexta-feira (26/7). Cerca de 60% dos 2,4 mil participantes se dispuseram a realizar a coleta de sangue para exames laboratoriais que possam investigar se há a incidência da moléstia.

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Os resultados serão informados aos pacientes por meio dos Centros de Saúde do município, sob a orientação da Superintendência Regional de Saúde, que encaminhará o tratamento regulamentado e medicamentoso aos portadores detectados, com acompanhamento permanente.

“Tivemos uma ótima receptividade, com a participação ativa da comunidade”, destacou a coordenadora do projeto e pesquisadora da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), Tânia Araújo Jorge, ao fazer um balanço dos resultados do “Expresso” em Montes Claros, Grão Mogol e Espinosa.

Coordenadora do projeto e pesquisadora da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), Tânia Araújo Jorge | Foto: Ítalo Lopes/Unimontes

“Assim como o meu pai, eu ainda tenho muitas dúvidas sobre o que a Chagas provoca. Convivo com dores de cabeça bem fortes, inchaços nas pernas, braços e pescoço. Até busquei saber o porquê tenho isto, mas os médicos já não são mais os mesmos de uma consulta para outra e aí o tratamento não prossegue”, lamenta Wanderléa, de 39 anos e mãe de dois filhos. Ela e o pai desconfiam que a doença foi adquirida na própria comunidade de Santa Bárbara, onde ainda há casas de sapê. “Lá era cheia desses bichos [apontando para o barbeiro ilustrado na revista educativa distribuída pelo projeto]. Voa baixinho, bate na parede e depois esconde nos buracos”, descreve Alberto Luís.

Neste sábado (27/7), a delegação realiza as atividades preventivas e de divulgação do tratamento da Doença de Chagas no município norte-mineiro de Lassance, onde o pesquisador Carlos Chagas descobriu a doença em 1909.

ATENDIMENTOS

Até o início da tarde desta sexta-feira (26/7), quando foram encerradas as atividades em Montes Claros, o Expresso Chagas 21 atingiu diretamente pouco mais de duas mil pessoas, considerando as atividades desenvolvidas também em Grão Mogol (18 a 20/7), durante a programação do 4º Festival de Inverno, organizado pela Unimontes, e em Espinosa (22 e 23/7).

O objetivo do “Expresso Chagas 21” é dar visibilidade ao enfrentamento da doença e ao direito à saúde dos portadores que demandam atenção. A Unimontes é parceria com a Associação Rio Chagas, Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) e Fiocruz Minas – promotoras da iniciativa. A delegação é formada por 50 pesquisadores de Minas Gerais e do Rio de Janeiro.