Universidade Estadual de Montes Claros – Unimontes

Estudo sobre portadores de Chagas é finalista de prêmio nacional

Um amplo estudo sobre o mapeamento da doença de Chagas, que verificou o surgimento dos sintomas da moléstia em aproximadamente 500 pacientes durante 10 anos, é finalista do VII Prêmio Saúde, promovido em nível nacional pela Editora Abril (Revista “Saúde é vital”).  O trabalho tem como autores 12 professores e pesquisadores de seis instituições, sendo dois deles da Universidade Estadual de Montes Claros.

O Mal de Chagas foi descoberta em 1909, pelo cientista mineiro Carlos Chagas, no município de Lassance (Norte de Minas).  A moléstia é endêmica na América Latina, onde existem cerca de oito a 10 milhões de pessoas infectadas.

O Prêmio Saúde tem o objetivo de valorizar, incentivar e divulgar campanhas de prevenção e educação, trabalhos clínicos ou da área cirúrgica e outras ações que tenham contribuído para melhorar a saúde e a qualidade de vida dos brasileiros.  O concurso recebeu mais 300 de trabalhos em seis categorias. O estudo “Incidência em 10 anos de miocardiopatia chagásica em doadores de sangue Trypanosoma cruzi soropositivos e assintomáticos” é um dos três finalistas na categoria “Saúde e Prevenção”.

Os trabalhos selecionados para a etapa final são avaliados por uma comissão julgadora formada por professores e pesquisadores renomados. Também são submetidos a julgamento pelo público, com votação aberta pelo site: www.saude.abril.br/premio saúde. Os vencedores serão anunciados durante a festa de premiação, marcada para o mês de novembro, em São Paulo.

O estudo sobre a Doença de Chagas já gerou quatro publicações internacionais e as informações levantadas foram analisadas por avançados centros de pesquisa dos Estados Unidos. Os trabalhos envolvem o Instituto do Coração da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (USP), a Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), a Universidade Federal de São João da Del Rei (UFSJ) e a Fundação Pró-Sangue Hemocentro de São Paulo (FPS/HSP), a Fundação Hemominas (Belo Horizonte), além da Unimontes.

Professor da Unimontes, André Pires Antunes colaborou com a pesquisa (foto: Léia Oliveira/ Comunicação Unimontes)

Os autores da pesquisa são: Ester Cerdeira Sabino, César de Almeida Neto, Vera Maria Cury Salemi, Barbara Maria Ianni, Luciano Nastari e Fábio Fernandes, da USP; Antonio Luiz Pinho Ribeiro (UFMG), Giuseppina Maria Patavino (FPS/HSP), Claudia Di Lorenzo Oliveira (UFSJ) e Anna Barbara Carneiro Proietti (Hemominas/BH). Pela Unimontes, participaram os professores André Pires Antunes e Márcia Mendes Menezes, do Centro de Ciências Biológicas da Saúde (CCBS).

COMO FOI FEITO O ESTUDO- A pesquisa “Incidência em 10 anos de miocardiopatia chagásica em doadores de sangue Trypanosoma cruzi soropositivos e assintomáticos” teve como objetivo levantar a incidência anual do surgimento de doença cardíaca em pessoas que não apresentavam sintomas, apontando assim o risco de desenvolverem problemas de coração. Foi levado em conta que, quando alguém é picado pelo barbeiro, inseto que transmite o protozoário Trypanosoma cruzi, o ataque do parasita pode levar, nos casos mais severos, à insuficiência cardíaca. Na maior parte dos casos, porém, o coração só dá mostras desse processo de falência muito anos depois, sendo possível o controle com medicamentos, e em situações mais graves, com transplante cardíaco.

Conforme explica o professor André Pires Antunes, foram cadastrados os dados de 500 pacientes que compareceram ao Hemominas de Montes Claros e à Fundação Pró-Sangue Hemocentro de São Paulo para a doação de sangue e foi constatado que eles eram portadores da doença de Chagas, provocada pelo Trypanosoma cruzi.

Na sequência, houve o acompanhamento dos pacientes, sendo avaliados os sintomas que eles apresentaram durante uma década. A avaliação foi feita por meio de exames específicos.  Os pacientes responderam a um questionário detalhado sobre a forma de contaminação e o histórico de vida deles.

O professor André Pires Antunes explica que a professora Ester Cerdeira Sabino, uma das líderes da pesquisa, conseguiu financiamento junto à NIH (National Institute of Health), maior agência de fomento de pesquisas em saúde dos Estados Unidos, que possibilitou a realização de exames avançados, comoeletrocardiograma e ecocardiograma e outros. “Até mesmo a parte genética dos pacientes foi avaliada”, informa André Antunes.

Professora Márcia Mendes Menezes, do CCBS (foto: Andrey Librelon/Unimontes)

RESULTADOS – Durante o estudo, os pesquisadores verificaram que, a cada ano, um percentual de 2% dos portadores de Chagas – até então assintomáticos – passou a apresentar sinais leves da doença.  Os sinais se apresentam na forma cardíaca (dilatação do coração, insuficiência cardíaca, arritmia e taquicardia) e na forma digestiva (megaesôfago ou megacolon). Geralmente iniciam na forma leve, e nem sempre progridem para forma avançada.

Os resultados da investigação científica vão servir como um instrumento importante para que os serviços de saúde possam traçar estratégias a fim de tratar e controlar a doença. “Verificou-se que há uma necessidade de maior acompanhamento dos pacientes chagásicos. Os resultados dos estudos vão servir de parâmetro para se investigar e descobrir novas drogas voltadas para o tratamento e a cura das lesões causadas pela Doença de Chagas”, afirma o professor André Pires Antunes.

REPERCUSSíO NOS EUA – André Pires Antunes destaca que o fato da pesquisa ser classificada entre os trabalhos finalistas do Prêmio Saúde/Abril vai despertar mais atenção para os estudos sobre o Mal de Chagas.  “Trata-se do reconhecimento de um trabalho sobre uma doença que é muito negligenciada, pois, apesar de ter passado mais de um século da sua descoberta, relativamente, ainda são feitos poucos investimentos para a busca da cura. O trabalho vai fomentar novos investimentos para a pesquisa na área”, comenta o professor/pesquisador da Unimontes.

Ele ressalta ainda que o estudo despertou muita atenção dos pesquisadores americanos. “A razão disso é que, nos últimos anos, por conta da emigração latina, a doença aumentou nos Estados Unidos, onde já existem cerca de 300 mil chagásicos”, observa Antunes.

O professor da Unimontes lembra que a forma de contaminação pela picada do barbeiro Triatoma infestans praticamente foi eliminada no Sudeste do Brasil. No entanto, nos últimos anos, cresceram outras formas de contágio do mal de Chagas, sendo uma delas pelo consumo do açaí, sobretudo, na região Norte do País.