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Encontro reabre debates sobre os conceitos da Geografia e amplia a visão acadêmica

By Christiano Lopes Jilvan

October 02, 2019

Com a participação de mais de 220 pessoas, eventos prosseguem até a sexta-feira

“Você se inspira nos trabalhos dos próprios alunos e dos professores, porque tudo aqui é mais amplo que a nossa realidade. Aliás, é justamente isto que o curso propõe: ampliar visões”. O depoimento de Felipe de Brito, acadêmico do 2º período do campus Pirapora (Norte de Minas), resume bem o objetivo do XII Encontro Regional de Geografia (ERG), evento organizado pela Universidade Estadual de Montes Claros e aberto na noite dessa terça-feira (1º/10). O tema geral é “Pensar e Fazer a Geografia Regional na Contemporaneidade”.

A programação, que acontece paralelamente ao VI Colóquio Cidade e Região, vai até a próxima sexta-feira (4/10), com palestras, mesas redondas, minicursos, oficinas e apresentação de trabalhos científicos de mestrandos e graduandos, em salas, laboratórios e auditórios dos prédios 1, 2 e 6, campus-sede.

Felipe tem 20 anos e, quando terminar a Licenciatura, faz planos de se pós-graduar no ensino da Geografia para pessoas com necessidades especiais. Encontrou nos dois eventos a oportunidade de visitar o campus-sede pela primeira vez, assim como a maioria dos alunos que vieram de Pirapora. “A gente espera que esta integração seja ainda maior ao longo do curso, já que a estrutura de laboratórios e de estudos, assim como em eventos como estes, pode nos atender também”, completou.

CONCEITOS

Professor doutor na Universidade de Brasília (UnB), João Mendes da Rocha Neto fez a conferência de abertura sobre o tema central e destacou que o grande desafio para a Geografia está em definir o conceito de região. “Na graduação, a gente vê uma longa trajetória na evolução do conceito, entre paradigmas e escolas geográficas, sempre com muitas perspectivas e muitos olhares. Mas há um desconforto por não existir uma definição única”.

João Mendes Neto, do Ministério do Desenvolvimento Regional, fez a conferência de abertura do Colóquio e do Encontro Regiomal (Fotos: Christiano Jilvan)

Diretor do Departamento de Desenvolvimento Regional e Urbano (DDRU), do Ministério do Desenvolvimento Regional, João Mendes justifica estas inquietações sobre a busca permanente por conceitos. Cita como parâmetros a interpretação do espaço e como ele se operacionaliza, a região como escala, expressão da vida, de pertencimento, domínio de um determinado espaço pelos indivíduos, incidência de fenômenos e fatos.

“Há uma porção de recortes e as pessoas desejam uma atuação única, uma lógica entre a política pública e recurso didático”, acrescenta, ao destacar que os cientistas buscam levar para a cadeira do gestor o pensamento do geógrafo e que, muitas vezes, este pensamento não consegue ser recepcionado pela política pública. “A política pública gera um espaço de debates, mas chega o momento em que o arbítrio do Estado tem que atuar”, descreveu Mendes, ao falar sobre as permanentes polêmicas.

CASO SEMIÁRIDO

Mendes foi secretário executivo do projeto federal de expansão do semiárido, em meados da década passada. O grupo técnico constituído por três ministérios trabalhou por um ano e nem mesmo os parâmetros pluviométricos estabelecidos pela Organização Mundial de Meteorologia foram suficientes para definir qual seria a área oficial de abrangência do semiárido.

“Dentre os indicadores, o limite de até 800 milímetros anuais de chuva, com a base de dados de três décadas, mas ao invés de incluir novos municípios, eliminaria outros 300. Foi preciso buscar uma solução técnica entre gestores e geógrafos com mais dois indicadores – risco de seca e índice de aridez – para concluir os trabalhos e, assim, outros 102 municípios – sendo 85 de Minas Gerais –, foram incluídos legalmente no semiárido”, disse, ao citar um exemplo de unidade entre os setores.

CAMINHADA – Professor Ricardo Henrique Palhares, coordenador geral do XII ERG, deu as boas vindas aos participantes e destacou o momento de se aproximar pesquisadores e alunos da graduação e pós-graduação, especialmente quando a Geografia passa por uma série de mudança em seus conceitos.

Para a chefe do Departamento de Geociências, professora Ana Ivânia Alves Fonseca, a divulgação das produções científicas reforçam a qualidade dos estudos e pesquisas produzidos pela Unimontes. Em nome dos demais docentes, o professor Gustavo Cepolini, coordenador do curso de bacharelado em Geografia, considerou o Encontro e o Colóquio como “uma caminhada histórica na evolução dos cursos no âmbito institucional”.