“Consideramos como números de guerra, observando que, antes do homicídio consumado, acontece a opressão, a agressão e o estupro. E os casos de morte registrados são, em sua maioria, de violência doméstica”. O comentário é da socióloga Tânia Mara Campos de Almeida, da Universidade de Brasília (UnB), durante a palestra que marcou a abertura oficial da II Conferência Regional pelo Fim da Violência contra as Mulheres, realizada na tarde dessa quarta-feira (25/11).
Na oportunidade, a pesquisadora apresentou números do Mapa da Violência 2015, elaborado pela “ONU Mulheres” (Entidade das Nações Unidas para a Igualdade de Gênero e o Empoderamento das Mulheres) – e divulgado oficialmente nesta quarta-feira. Os “números de guerra” citados por ela referem-se às 106.000 mil mortes violentas de mulheres registradas no Brasil nos últimos trinta anos.
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O evento foi realizado no auditório do prédio 6, no campus-sede. A programação prossegue até esta quinta-feira (26), no mesmo espaço. Logo mais, às 19h30, acontece a mesa redonda sobre a principal reivindicação da II Conferência: a implantação do Juizado de Violência Doméstica e Familiar no município, prevista pela Lei 11.340/2006 (Lei Maria da Penha).
Mestre e doutora em Antropologia e pós-doutora em Representações Sociais, a professora Tânia Mara Campos explicou que o Brasil, atualmente, ocupa a quinta posição no ranking mundial de violência contra a mulher. “Historicamente, as mulheres negras e pobres são as principais vítimas neste tipo de crime”, acrescenta.
AMPLITUDE
Organizadora da II Conferência e coordenadora do Grupo de Pesquisa “Gênero e Violência” da Unimontes, a professora Cláudia de Jesus Maia, disse que o evento não se limita a discutir o tema e propor soluções. “A finalidade é muito mais ampla ao inserir a Academia como articuladora para a mudança de comportamento. Em 2011, na primeira conferência regional, como resultado, conseguimos incentivar a reabertura da Delegacia da Mulher em Montes Claros. Para este ano, o nosso propósito é fomentar a abertura do juizado”.
O reitor da Unimontes, professor João dos Reis Canela, presidiu a solenidade, acompanhado pelo vice-reitor, professor Antonio Alvimar de Souza. Ele destacou a inserção das universidades no debate: “a violência doméstica fere a dignidade da família brasileira e as instituições de ensino devem, insistentemente, fomentar as discussões para amenizar este trauma ou mesmo disseminá-lo de uma vez por todas”.
O diretor do Foro da Comarca de Montes Claros, juiz Richardson Xavier Brant, enalteceu a iniciativa da ministra Carmen Lúcia Antunes, do Supremo Tribunal Federal (STF), na implantação da campanha “Justiça pela Paz em Casa” – da qual a Unimontes faz parte –, juntamente com o Conselho de Reitores das Universidades Brasileiras (CRUB).
“Mesmo diante das dificuldades e dos desafios enfrentados, há, sim, tentativas para solucionar a questão da violência doméstica. Mas, sobretudo, é preciso uma mudança, inadiável, da cultura frente à violência. O Judiciário, assim como a sociedade e a academia, precisa instigar esta necessidade de transformação”, disse o juiz.
A atração musical foi apresentada pelo professor Élcio Lucas, coordenador do mestrado em Estudos Literários da Unimontes, com poemas musicados do poeta espanhol Federico Garcia Lorca e da escritora montes-clarense Mariza Cardoso sobre o universo feminino.
O evento é organizado pela Unimontes por intermédio do Grupo de Pesquisa “Gênero e Violência”, do Grupo de Pesquisa em “Metodologia das Ciências Sociais, Violência e Criminalidade”, Mestrados em História e Desenvolvimento Social, Hospital Universitário Clemente de Faria (HUCF), Defensoria Pública de Minas Gerais, Polícia Civil, Programa Vira-Vida e Conselho Nacional – ambos do Sesiminas –, e a Secretaria de Estado de Desenvolvimento Social (Sedese).
A solenidade de abertura contou também com as presenças da assessora de Gestão, Segurança e Proteção da Mulher (da Secretaria Municipal de Desenvolvimento Social), Andréa Veloso; do tenente William Pereira, representando o comandante do 10º Batalhão da PM, tenente coronel Éderson da Cruz Pereira; e a vice-presidente da União Popular de Mulheres de Montes Claros, Mariza Cantídio.