Com 33 famílias, a tribo Tuxá obteve em 2015, após 65 anos, o direito de retornar às terras remanescentes às margens do Rio São Francisco, no distrito de Cachoeira do Manteiga, no município de Buritizeiro (Norte de Minas). Até então, os descendentes de indígenas vindos da região de Rodelas, extremo norte baiano e que migraram para Minas depois de o território ficar submerso por causa de uma hidrelétrica na Bahia, viviam como desaldeiados na área urbana de Pirapora.
A experiência com esta transição e a manutenção dos costumes como agricultores e artesãos – até mesmo do idioma Zubukuá, falado por apenas três pessoas –, vem sendo compartilhada durante o IV Colóquio Internacional de Povos e Comunidades Tradicionais, que acontece na Universidade Estadual de Montes Claros. Os Tuxás são uma das quatro etnias representadas no evento.
Anália Raaonerê é a cacique da tribo e explica que esta é a primeira vez que o grupo Tuxá Setsor Bragagá participa do evento. “Estou gostando muito desta experiência, que vejo como uma oportunidade para falar de nossas experiências, principalmente das superações. Mesmo com tantas influências, conseguimos manter as nossas tradições”, explica a índia.
O território do Tuxá, que antes pertencia ao Estado de Minas Gerais, foi devolvido em novembro último. Conta com quase 6 mil hectares e cerca de 350 pessoas. A comunidade sobrevive basicamente da agricultura familiar (feijão, cana de açúcar, banana, mandioca, etc), pequenas criações e do artesanato. “As mulheres fazem os trabalhos com sementes, plantas e barro e os homens com madeira”, explica.
INTERCMBIO
Os Xacriabás, índios estabelecidos no Norte de Minas (municípios de Itacarambi e São João das Missões) e no Sul da Bahia (Cocos), também participam do IV Colóquio Internacional. Participante de oficinas e debates, Hilário Corrêa Franco se apresenta como um dos mobilizadores da comunidade. Somente em Minas, são 11 mil Xacriabás, que convivem no território de 55 mil hectares. Sobre o evento, ele o destaca como ponto de encontro para sociabilizar com os outros povos problemas do dia a dia. “É um intercâmbio muito produtivo, não apenas sobre problemas, mas também com a possibilidade de visualizar soluções para questões comuns de todas as comunidades”.
HERANÇA COMPARTILHADA
Da comunidade quilombola de Buriti do Meio, em São Francisco, Maria das Neves Francisca e Souza descende dos remanescentes de escravos no Norte de Minas e participa do IV Colóquio como monitora em atividades sobre os costumes de sua comunidade. “O artesanato leva a arte, o amor e alegria às pessoas. Posso dizer que as peças valem mais do que ouro”, afirmou a quilombola, que no primeiro dia ministrou a oficina sobre “Artesanato em Barro”.
Aos 56 anos, disse que trabalha no ofício desde os três anos e revela que o artesanato é a forma que encontra para disseminar sua cultura pelo mundo. “Trabalhar com o barro não agride o meio ambiente”, revela a artesã, que tem trabalhos levados até mesmo para fora do País. “Vejo o nosso trabalho de grande importância histórica e cultural. Em minha comunidade, há uma grande produtividade artesanal produzida por quilombolas e, por isso, entendo que deva ser compartilhada e multiplicada para outras pessoas”, disse.
Também no Colóquio, Maria das Neves ministra a oficina de “Turbantes”, com os mais variados estilos de adereços para as mulheres. Durante o curso, entre um trabalho e outro, ela entoava cânticos de raiz, inspirados nos próprios quilombolas. Foi aplaudida pelas alunas.